Tornei-me devota Hare Krishna mais ou menos na mesma época que comecei a pensar em namorar. Sempre fui fechada para me relacionar afetivamente, com isso, perdi pessoas incríveis, porque simplesmente não sabia lidar com a situação. Dispensei homens por usar sapato social preto com meia esportiva branca. Sendo que corrigir uma indumentária, é mil vezes mais fácil que dar caráter a alguém que simplesmente não tem. Imatura pensava que a gente só deveria começar uma relação se estivéssemos apaixonadas. Amigos estavam descartados, queria manter a amizade forever (bem pensamento teen), e sabia que se namorasse e não desse certo, perdia o amigo. Bobagem, a gente perde amigo diariamente para a distancia, falta de convivência e trabalho exagerado!
Paixão não é nada, é uma mera ilusão. É muito melhor construir um amor sereno, seguro e calmo, com quem já se conhece, do que se aventurar por aí e correr o risco de encontrar com um FDP. Sei que algumas vezes dá certo, mas o risco de encontrar um oportunista dentre anônimos é muito grande! Com a experiencia, observando os outros, aprendi que não precisamos estar caindo de amor para namorar alguém. Isso vem depois, a gente aprende a amar, digo o amor romântico. Não são os indianos que constroem o amor? Mas, como me relacionei muito pouco com namorados, sempre esperava um sentimento maior, que eu até outro dia considerava ser a paixão. E por isso, para evitar me relacionar, durante a adolescência desenvolvi amores platônicos. Acredite! Isso foi uma forma que criei para me proteger! Por ser covarde e ter medo de enfrentar uma situação real e me machucar, porque sempre me apeguei demais as pessoas. Eu não consigo mudar de manicure ou de psicologa, por exemplo, imagina mudar de amor? Então eu me apaixonava por uma pessoa distante, simplesmente porque ela era bonita ou porque cantava numa banda que eu curtia, juro! Nutria aquilo por alguns meses, até que a pessoa descobria que eu existia e eu tinha que dar uma desculpa para não me envolver com ela, porque a maioria das vezes fui correspondida. Dizia algo do tipo –É galinha ou come carne. Aliás, o fato da pessoa comer carne, ingerir bebida alcoólica ou fumar foram os fatores que mais eliminaram candidatos. E sem saber, acabei casando com uma pessoa que fazia tudo isso! Lamentável. Me privava de me relacionar, mas ao mesmo tempo, no fundo, no fundo, embora eu não admitisse para mim mesmo, eu queria alguém para mim. E pensava que com um devoto Hare Krishna seria a melhor opção. Nós, os devotos, temos a mania que chamar os nãos devotos de karmi. E na minha cabecinha obtusa, me relacionar com um karmi seria o mesmo de me relacionar com uma pessoa com um doente mental. O que na maioria das vezes não condiz com a realidade, mas eu pensava assim, oras bolas! Eu era ingênua, pô! Estava fechada para o mundo e cavando minha própria decepção.
Existem pouquíssimos devotos Hare Krishna aqui no Brasil, e se pensarmos em devotos mesmo o numero cai ainda mais. Ou seja, relacionar com um devoto seria mais ou menos como ganhar na loteria. Era assim que me sentia. Ao me dispor apenas namorar devotos, fechei muitas portas. Ambos os dois devotos que namorei, foram pessoas bem cruéis comigo, e vejo que o único namorado que tive que não era devoto, foi o único que não foi canalha. Todos os devotos Hare Krishna são pessoas ruins? Claro que não, acontece que as religiões atraem muitos oportunistas, porque eles sabem que quem está praticando uma religião é uma pessoa generosa (e que é mais fácil de enganar). Essas pessoas impiedosas e ruins na realidade não são devotos, tanto que eles não conseguem praticar nada! Somente cantam e pulam nos festivais religiosos como se estivesse numa balada, mas e por dentro? São oco, escuros, não tem nada edificando lá dentro. A alma é doente e ele não pensa em fazer vitimas, em prol do seu bel prazer. Depois disso, percebi que uma pessoa que esteja praticando (principalmente fingindo praticar) uma religião pode ter mais veneno do que as que estão numa mesa de bar enchendo a cara de álcool. Uma vez um padre falou isso para uma moça que acabara de fazer um voto para ser noviça, no convento vai encontrar mais demônios do que aqui fora. Achei super pesado na época, mas vejo que é a real. São pouquíssimas pessoas que estão numa religião para crescerem espiritualmente. A maioria são os desesperados.
11 thoughts on “Minhas escolhas e eu”
Tereza B. Guedes
Muito maduro seu post. O mundo material é cheio de perigos, mas isso nao significa que nao podemos conhcer uma pessoa legal, de bom caráter, mesmo que ela coma carne ou beba bebida alcóolica. Prabhupada tinha uma irmã que era casada com um homem nao devoto e que comia carne e ele (Prabhupada) dizia que ela era devota.
O importante é termos consciencia do nosso valor, nao é preciso implorar por amor, existem tantas pessoas sozinhas por aí, de todas as idades. O importante é sabermos que se uma pessoa nao nos ama, nao se importa com a gente, ela nao nos merece.
Debora Wolf
Verdade!
Fran Benites
Como uma pessoa casada digo pra todos: casem com seu melhor amigo!!! Pq são os melhores amigos que estão ao seu lado principalmente nos momentos difíceis, que são muitos no casamento…quando namorados tudo é flores, mas a convivência diária é diferente…com seu melhor amigo, fica um pouco mais fácil…é mais fácil tb pra expor como se sente diante de um problema
Quanto a religião, acho que fica mais fácil conviver com alguém que partilha da mesma coisa que vc…claro que não te protege de se dar mal, dá mesma forma que não protege de um que não partilha…já me dei mal das 2 formas
Jane E Koji S
Bom saber mais de vc.
Eu não sou devota de nada, apenas sigo há um Deus único e soberano que deu seu filho para nos salvar, libertar e nos ama muito. Quem tem Jesus no coração não faz mal há ninguém, isso eu sei. Mas é preciso ter Deus no coração, não adianta fazer como vc disse, pular numa igreja, falar de Deus, mas por dentro ser escuro e vazio e peçonhento. Isso eu falo de pessoas que conheço nesse meio, assim como vc diz conhecer no seu meio. Tem em todo lugar, não adianta. Porque não é religião que nos transforma e nos dá um novo coração e sim Deus.
Bjo
Debora Wolf
🙂
Amarilis
Acompanho seu blog desde o tempo que era o bangalo.blogspot e sempre vi vc comentando sobre sua vida!
Me lembro até de um fato triste sobre sua infância e seu tio… E confesso que fiquei abismada qdo vi que seu casamento havia terminado com poucos dias e não vi vc fazendo nenhum comentário sobre o término! Fiquei curiosa confesso…
Acho que hoje vi o motivo e nossa, fiquei impressionada, pq através do seu blog acompanhei seu namoro, seu noivado e torcia pela sua felicidade, pois de fato parecia que vc tinha ganho na loteria do amor!
Que sua busca continue, e que continue por um bom caminho, com boas pessoas e que vc seja verdadeiramente feliz ao lado de um homem que esteja disposto a te fazer feliz!
Debora Wolf
Na verdade acho que estou traumatizada. Por uma razão ou outra sempre estou me relacionando com pessoas ruins. Ou sei lá, eu que sou ruim e elas que são boas, não sei. Não tenho mais referência de nada! 😦
Tássia
Concordo com alguns pontos citados pela Tereza. A gente se torna “um pouco” exigente, mas creio que dá pra ter um relacionamento legal com uma pessoa que tenha gostos diferentes do seu. Isso de comer carne é uma coisa mais sua (exemplo), mas que vc pode ir mexendo ao apresentar pratos vegetarianos e tudo mais. Seria um detalhe, né?
Às vezes nos surpreendemos quando não esperamos tanto da pessoa.
Adorei o post!
Debora Wolf
Sim, mas qdo a pessoa é um personagem fica difícil….
Marcus Holst Eliseire
Eu acho que entendo um pouco você. Eu também pensava/penso que talvez o melhor fosse eu me relacionar com uma devota ‘Hare Krishna’. Devota mesmo! Mas o principal é : como confiar em alguém que não leva a sério a espiritualidade? Mas no fim é tudo racionalização. Cada vez que a gente tenta é sempre um risco. E as pessoas mentem, até pra si mesmas. A pessoa mostra o que acha que você quer ver porque quer se relacionar, quer que dê certo. Com o tempo você vai descobrindo que não era o que parecia. Outro dia vi uma dica interessante. Uma estória de comer um kilo de sal com alguém pra conhecer esta pessoa. Acho que é uma boa dica. Acho que nunca me dei tempo pra conhecer as pessoas, iludido com essa idéia de amor romântico, paixão. Talvez o melhor seja conhecer bem as pessoas e fazer uma seleção mais inteligente. Eu tb acho que se a pessoa vale a pena a gente pode aprender a amar aquela pessoa. Só que nunca fiz isso, então está só na teoria! rs
Hare Krishna!
Debora Wolf
Obrigada pelo lindo depoimento