Quando comecei a trabalhar com famílias, ficava sempre surpreso com uma coisa ou outra. Umas das primeiras grandes surpresas foi descobrir que as crianças mais estáveis e felizes eram as criadas por pais incrivelmente firmes (no meu modo de pensar). O segredo parecia ser que esses pais eram certeiros em seu plano de ação e extremamente confiáveis – tão firmes que as crianças sabiam exatamente quais eram as regras e como não se meter em problemas. Por essa razão, raramente eram castigadas.
E o mais importante, é que essas crianças sabiam que eram amadas e valorizadas incondicionalmente. A rejeição nunca era uma possibilidade. Essas crianças podiam ficar com medo às vezes, mas não apavoradas e nunca se sentiam abandonadas. Em resumo, haviam regras rígidas, mas também havia atenção positiva. Se houvesse um sem o outro, não acredito que funcionasse.
Por outro lado, vi um grande número de crianças que tinham muita ‘liberdade’ e que não eram punidas por comportamentos horríveis, mas ainda assim sentiam-se infelizes. Essas crianças estavam claramente procurando por alguém que colocasse freios nelas, mas seus pais não entendiam os sinais. Eles achavam que as crianças queriam mais espaço e mais liberdade, mas a verdade era exatamente o contrário.
As crianças têm necessidade de limites, e esse é um dos segredos que os pais precisam conhecer. Quando os assistentes sociais colocam uma criança em uma família adotiva, depois de a família verdadeira da criança ter se desintegrado, eles sabem como alertar os pais adotivos: “Essa criança pode se familiarizar facilmente, mas muito provavelmente ela irá se comportar bem mal nos primeiros três meses para testar vocês e a união desta família, para saber se é forte o bastante para segurá-lo. Ela vai querer saber se o seu casamento, a sua sanidade mental, o seu afeto e a sua disciplina são fortes o suficiente. Só então ela irá relaxar e começar a crescer de novo.
Em resumo, ela vai querer saber se esta família não irá se quebrar como a antiga fez, e irá testar para ter certeza!”
A adoção é um exemplo extremo. Mas todas as crianças são iguais: precisam saber que alguém irá freá-las.
Sabemos, com base em pesquisas, que existem três tipos principais de reação dos pais ao mau comportamento dos filhos: agressiva, passiva e firme. Os pais agressivos usam o ataque, com palavras ou com ações para insultar os filhos. Os pais passivos permitem que seus filhos “sapateiem em cima deles” e só recuperam o controle quando chegam à “última gota d’água”, quando, então, explodem inesperadamente. Os pais firmes são bem diferentes.
OS PAIS IDEAIS
Os pais firmes são claros, determinados e, por dentro, bastante confiantes e relaxados. Os filhos aprendem que o que a mãe ou o pai dizem é pra valer, mas ao mesmo tempo eles não são tratados com humilhação e insultos.
Firmeza não é uma coisa que se vê todo dia; portanto, pode ser que você não tenha muitos exemplos para se espelhar. Se os seus pais eram agressivos, você provavelmente vai achar difícil ser firme. O mais importante é encarar a firmeza como uma habilidade e não como algo que nasce com você. Isso significa que você pode levar algum tempo para aprender a ser assim. Ainda há esperança!
A primeira parte da firmeza está dentro de você, nas suas atitudes.
A segunda parte da firmeza está na ação: o que você realmente faz. Eis aqui como obter bom comportamento de uma criança que costuma ser desobediente ou se atrasar:
1. Que fique claro na sua cabeça: O que você está querendo do seu filho não é um pedido, não está aberto a discussões, é uma exigência que você tem o direito de fazer, e a criança irá se beneficiar se obedecer.
2. Olhe bem nos olhos dela. Pare o que estiver fazendo, chegue bem perto da criança e faça com que ela olhe para você. Não dê as instruções até que ela faça isso.
3. Seja claro. Diga: “Eu quero que você faça …. agora. Você entendeu?”. Certifique-se de que ela dê um “sim” ou um “não” como resposta.
4. Se ela não obedecer, repita o que você quer dela. Não discuta, não argumente, não fique bravo nem assustado. Respire devagar e profundamente para ficar mais calmo. O que você está mostrando para a criança é que está disposto a persistir nisso e que nem sequer se aborreceu. Esse é o passo-chave, e o que mais importa é o que você não faz. Você não entra em um debate ou em uma discussão, não se irrita, simplesmente repete a exigência à criança.
5. Fique por perto se houver qualquer possibilidade de a criança não fazer o que foi mandado. Quando a ordem for cumprida, não faça muito estardalhaço por isso. Simplesmente diga “bom”, e sorria rapidamente!
Essa sequência é um procedimento de treinamento. Pode ser que leve algum tempo nas primeiras vezes e, então, você vai pensar que seria mais fácil, por exemplo, se você mesmo recolhesse os brinquedos. Mas o tempo que foi investido aqui será recompensado centenas de vezes.
O truque é simplesmente persistir e a criança acaba cedendo.
Toda a raça humana tem trabalhado na questão da disciplina nos últimos 30 ou 40 anos, portanto, você não está sozinho.
Então, essa é a história dos pais firmes. Ela começa com a decisão de que os pais têm direitos e de que a criança precisa de controle (mesmo que não concorde). E termina com uma vida bem mais tranquila para todos, e muito mais tempo para diversão.
LIVRO: O SEGREDO DAS CRIANÇAS FELIZES
5 thoughts on “Pais firmes: o ideal em falta no “mercado””
Tássia Camargo
A educação vem desde a infância… Pra mim, se os pais não derem frios e ensinamentos na infnância, na idade adulta é provável que sejam pessoas preguiçosas, que não querem fazer nada, sem limites, enfim… Conheço gente assim. E o pior são os pais que têm “medo” de magoar os filhos (já grandes) e não falam nada, não uma bronca, um conselho, pois acham que eles vão ficar chateados. Aí os filhos continuam com comportamentos lamentáveis =(
gabrielabn
Quando a vida nos ensina, ela não está preocupada se vamos ficar tristes ou magoados com os ensinamentos. Aprender às vezes é doloroso, e isso vale para as crianças também. Ninguém gosta de ser contrariado, mas mesmo isto faz parte de aprender que na vida, nem sempre as coisas são como queremos. A frustração tbm é fonte inesgotável de ensinamentos… Se não tivermos coragem de peitar os filhos para ensinar o que é certo, um dia vamos ter que aguentar os filhos peitando a gente para dizer que falhamos e agora é tarde demais!
A frustração ou choro de hoje, é a alegria e boa educação de amanhã, por isso a gente não pode ter medo de ensinar, ainda que não seja fácil.
Diane Lorde
Gostando muito das super dicas.
Tenho um menino de 4 anos, e às vezes parece que vou “perder a mão” mas sou determinada e tento manter ao máximo a firmeza com delicadeza, sem dúvida não é fácil mas vale o esforço.
gabrielabn
Com certeza vale o esforço sim Diane! Quem disse que ser mãe é para qualquer uma? hehehe Só para as fortes de coração e atitude!
Eu tbm tenho meus medos e inseguranças com minhas filhas, mas não podemos desistir ou deixar de insistir. No futuro isso vai ter valido muito a pena!
mefalaramqueiaterbolo
http://mefalaramqueiaterbolo.wordpress.com/2014/02/10/5-perguntas-para-debora-wolf/
Aqui está o link da sua entrevista, Debora. Tomara que suas leitoras gostem.
Raquel Link