Dividir apartamento com outras pessoas, que não são de nossa família é bem complicado. Quando amamos uma pessoa, nosso nível de tolerância é outro, até porque, temos mais facilidade em dizer o que está certo e errado. Ao dividirmos o mesmo teto com pessoas de fora, muitas vezes até sem intimidade a coisa complica. Engolimos sapo em nome da convivência. Não temos a responsabilidade de educar, pois sabemos que aquilo, o dividir a casa, não será para sempre. E nem é para ser.

Há quase um mês estou morando com uma italiana e dois irmãos do Kazaquistão. O apartamento é grande, dividimos os banheiros entre meninas e meninos. Logo quando nos mudamos, eu e a italiana chegamos no mesmo final de semana, pedimos para os meninos colaborarem com a limpeza da cozinha, pois haviam panelas usadas sob o fogão. Eles consentiram.

Acontece que, para os padrões de higiene brasileiro, aqui tudo estava sujo. Antes de me mudar, limpei meu quarto com vários produtos desinfectantes aqui, incluindo água sanitária. Outro dia, sozinha, fiz um faxinão na cozinha, limpei tudo, lavei todas as louças, incluindo as limpas. Achei uma parte do armário, onde os moços estavam guardando louça suja, inclusive com resto de comida. Mas mais uma vez, não falei nada.

Meu namorado fica maluco, toda hora diz que não deveria fazer, que o serviço é deles, mas não consigo viver num ambiente imundo. Também sou a mais velha da casa, isso dá um senso de organização e de como viver bem, melhor. Mas não é fácil! Eu trouxe alguns utensílios comigo do Brasil. Todos os dias quando vou cozinhar, minha colher de pau, por exemplo, está impregnada de ovo. Minha roommate é viciada em regimes e corpo sarado, então consome muito ovos. Frequentemente não lava a louça, deixando sob o fogão e pia tudo sujo. E lavo tudo antes de cozinhar. Até as coisas dela. Anteontem escondi minha colher de pau, pois nunca posso usar. O ovo fica tantas horas grudado nela, que tenho que deixar de molho para conseguir remover.

Além da louça, tem a bagunça e sujeira. Come-se na mesa, deixam-se farelos, papeis e resto de comida. As cadeiras ficam no meio, uma no corredor e a outra no meio da cozinha, atrapalhando inclusive a locomoção de todos moradores. Diariamente coloco tudo no lugar, não custa nada, mas ontem deixei tudo no meio, e mesmo atrapalhando andar na cozinha, as cadeiras ficaram o dia todo no mesmo lugar. Ninguém tem braço parece!

Quando vim morar aqui, minha mãe disse –toma cuidado com o cabelo que cai no ralo. E desde então, tenho cuidado de sempre deixar o ralo em ordem, afinal de contas, ninguém é obrigado a conviver com meus restos capilares. No entanto, frequentemente encontro o banheiro assim. Com os fios da minha colega grudado no azulejo, fica tanto tempo por lá que eles secam e caem na banheira. É tanto cabelo, que quando estou tomando banho, esbarro nele. Se quero um banho em paz, tenho que limpar isso dela.

No entanto, uma coisa me incomoda bastante. Um dos garotos deu para me cantar, e insiste. Seja pessoalmente, quando aparece na cozinha com a camisa aberta (ou completamente sem camisa) para exibir seus músculos, ou por mensagem no Face Book. Já disse não um milhão de vezes, mesmo assim, ele continua.

Por isso, caso fique aqui por mais tempo, vou tentar dividir um apartamento com uma mulher e brasileira. Mulher porque dificilmente vai me cantar e brasileira, porque o senso de limpeza geralmente é maior. Pelo menos brasileiro toma banho todos os dias.

Beijinhos