Tudo o que mais me lembro dos meus pais, tem a ver com isso: momentos vividos com eles!
Eu vejo muitos pais que se preocupam horrores com o que os filhos precisam em termos materiais como roupas, brinquedos, eletrônicos… Até mesmo na área escolar, com materiais descolados e de marcas conhecidas e mais caras. Vejo pais, que pela falta de tempo para estar com os filhos, tentam compensá-los dando-lhes presentes, levando a lugares legais, restaurantes descolados (e caros) ou deixando eles fazerem tudo o que querem (como se isso ajudasse!). Mas a grande questão é que o ser humano é relacional. Para se sentir feliz e completo – ainda que tendo tudo no âmbito material – ele precisa se sentir amado, bem quisto, ouvido e, acima de tudo, importante. Nada que uma pessoa dê a outra (materialmente falando) substitui esse sentimento que precisa ser preenchido.
Eu sempre tive condição financeira bem complicadinha. Eu era – e às vezes ainda sou – aquela pessoa que vai nos aniversários e diz para o anfitrião: “Seu presente eu dou depois. Tive uns contratempos”. Em outras palavras: “Não tive grana para comprar o presente, mas assim que o pagamento cair na conta, se eu conseguir separar uns 20,00 reais eu compro, e te dou depois… quem sabe perto do natal? rsrs”. Eu não tenho vergonha de assumir isso, porque eu não sei de você, mas por ser assim, eu já ouvi demais a frase: “Só a sua presença já um presente para mim”. Como isso faz o coração da gente transbordar!!
Acredite, seus filhos diriam essa frase para você o tempo todo se a soubessem e o que ela significa. Nossos filhos – as crianças em geral – têm sede da presença constante de pessoas à sua volta, principalmente aquelas que possuem vínculos “afetivo-sanguíneos” com ela, como pais, avós, tios, primos, etc. O termo família significa isso: relacionamento afetivo entre pessoas que compartilham o mesmo vínculo sanguíneo ou emocional. Não significa pessoas que compartilham presentes, boa condição financeira e pré disposição ao sucesso (risos).
Amigas, nós mamães temos mais facilidade em compreender laços afetivos e o significado de doar-se. Nossa natureza emocional nos garante isso. E cabe a nós sermos embaixadoras deste sentimento dentro de nossos lares. Nosso radar de alerta deve estar sempre ligado para detectar quando a “casa” está indo rumo à distorção do que significa amor incondicional e desprendido. Nossos bebês, ainda que sejam crescidinhos, e até casados (por que não?), sempre vão precisar de amor, de atenção, de carinho, de tempo de qualidade da nossa parte. É claro que eles adoram ganhar presentes. Quem não gosta? Mas, a sua presença (seu amor, sua atenção, sua dedicação, seu carinho, suas palavras encorajadoras, seu afago, seu colo…) sempre serão – na cabeça deles – o melhor presente de todos.
Pode vasculhar sua memória: todas as suas maiores dores e alegrias com relação a seus pais tem a ver com momentos vividos com eles (ou deixados de viver). Não diz respeito – normalmente e na maior parte do tempo – aos presentes que você ganhou ou deixou de ganhar, ou ao que vocês tinham condição de ter ou não, mas a como seus pais o fizeram se sentir em relação à vida; à tudo!
Meus pais passaram um período difícil na vida deles. Meu pai ficou desempregado por seis longos anos, e bem na minha fase de pré-adolescência para adolescência. Fase em que normalmente queremos ter a roupa da moda, ir a lugares legais com os amigos, fazer passeios incríveis e comer coisas diferentes. Eu imagino como não foi fácil para eles lidar com essa dificuldade e ainda por cima, dar conta das minhas necessidades e da minha irmã (apenas 1 ano e 8 meses mais nova que eu). Duas filhas com necessidades típicas da juventude, vontades que não podiam ser satisfeitas de maneira adequada… Não deve mesmo ter sido fácil. Mas quer saber? Eu só tenho maravilhosas recordações dessa fase! Quando eu olho pra trás eu vejo conversas inesquecíveis ao redor da mesa, diversão caseira das mais criativas, meus amigos vindo na minha casa, porque já que eu não tinha dinheiro para sair com eles, minha mãe incentivava a gente a trazê-los para fazer farra na casa dela (só refleti sobre essa tática recentemente, porque até então – na minha cabeça – era nítido que minha mãe adorava ver a casa cheia e bagunçada, kkkkkkkk – grande ilusão!). Enfim, tudo o que me recordo não diz respeito aos “nãos” que tive que receber doloridamente, nem ao fato de não ter o material escolar top do momento, ou a roupa descolada que todo mundo estava usando e comprando. Não diz respeito a NÃO TER, mas ao que TIVE!
Eu tive atenção das de melhor qualidade. Eu tive amor incondicional dos mais preciosos. Eu me lembro desses momentos, das risadas que dei com meu pai, dos aniversários criativos que fazíamos para não gastar tanto, das aventuras em família que a gente fazia – tudo isso sem muitas condições, mas justamente por darmos o nosso jeito é que ficava legal!
Talvez você esteja aí pensando: “Legal, mas eu tenho dinheiro, eu não preciso fazer tudo isso para que meus filhos não se sintam mal amados. Se posso dar do bom e do melhor, eu vou dar!”. E eu digo a você: Que bom!! Faça isso. Mas não deixe de lado, por um momento sequer o real significado de AMOR. Porque por mais que você possa dar tudo para o seu filho, ele não terá nada se viver sem você dando você mesmo para ele. Não é quanto tempo você pode dar, mas que tipo de tempo e o que você faz com ele quando tem a oportunidade.
Sejamos pais presentes, amorosos, e dando para nossos filhos o que somos, da maneira que somos pura e simplesmente, e aí sim nunca lhes faltará nada, porque 99% das vezes o que os filhos realmente querem, é atenção, amor, carinho, presença e atitudes. É legal e ideal que a gente possa dar tudo do bom e do melhor, mas não é raro ver quem tem tudo ser infeliz, porque no final das contas, o ser humano foi criado por Deus para ser relacional e não material, nunca esqueça isso!
As pessoas invariavelmente se esquecem dos presentes que ganharam, mas nunca se esquecem como os outros as fazem se sentir, porque a nossa memória – criada e dada por Deus – tem filtros para esse tipo de coisa. Nossa memória de longo prazo é programada para guardar recordações de peso, de importância. Será mero acaso que justamente essas memórias sejam relacionadas à pessoas e situações, e não a coisas e bens? Acho que não. E mesmo as memórias que temos em relação à presentes ou coisas, está diretamente ligada a um sentimento (bom ou ruim), por isso a mente guarda.
Tranque-se num cofre sozinho com tudo o que você tem e veja o que acontece. Já ficou provado cientificamente que um ser humano isolado socialmente, ainda que tendo tudo o que precisa, morre ou enlouquece! Você sabia?
Vale a pena refletir sobre essas questões em nossa vida, ainda que não sejamos pais. São informações preciosas para a vida, porque pode ser que a gente esteja agindo mal não com os filhos – propriamente dito – mas com as pessoas em geral do nosso relacionamento. É sempre bom a gente reavaliar nossas motivações.
Gabriela Bueno