Quando comecei a bloggar em 2001 existia muito medo de exposição. Eu mesma usava um codinome “Sarah Punk” e a minhas “fotos” eram ilustrações de autorretratos. Aos poucos as coisas foram mudando, o Fotolog lançado em 2002 deixou de ser um site de fotos de paisagens e se tornou um site de selfies. Eu lembro que um jornal francês citou minha página como “só posta o seu próprio nariz”. Me senti diferentona, mesmo outras pessoas fazendo isso também. Com a popularização das câmeras digitais, postar fotos na internet se tornou cada vez mais comum. E em 2004 quando lançaram o Orkut e o Facebook todos estavam preparados para se expor na internet.
A mudança do anonimato para a super exposição mudou rapidamente. E os blogs de moda também. Antes as pessoas escreviam de tendência de moda, de como usar peças, combinar cores aos poucos o estilo “look do dia” se tornou bem popular e blogueiras começaram a serem procuradas pelas marcas. Um site chamado Lookbook foi lançado em 2008, e somente meninas estilosas estavam lá e você precisava ser aprovada para postar suas fotos na comunidade. Acredito que isso lá pelo ano de 2010 várias empresas começaram a procurar blogueiras. Eu também fiz alguns posts pagos, mas sempre fui um pouco underground (um pouco acima do peso, cabelo volumoso e enrolado, ou seja, fora dos padrões da maioria das marcas). Na época tinha amizade com várias blogueiras de moda que hoje são famosas. Vi quando entraram num clubinho fechado chamado F*Hits, eu não entrei, pior, o link do meu blog que era vinculado aos sites das blogueiras amigas foi deletado. Fiquei um pouco desapontada, mas acredito que eu realmente estava fora do streaming.
No entanto, nunca deixei de seguir essas blogueiras e admirar o trabalho delas. Vi muita evolução de postagem, de corpo, de estilo, de grifes e fiquei realmente admirada. Meninas que começaram como eu, estavam fazendo muito dinheiro. Tinha uma blogueira era a minha favorita, claro e ela sempre acompanhei mais atenciosamente. Adorava a forma fofa que escrevia, e em 2011 ela foi considerada uma das maiores blogueiras de moda do mundo. Merecido!
No entanto, aos poucos fui percebendo um comportamento não muito fashionista nela. Enquanto as meninas mais famosas do momento entupiam seus posts de blog e posteriormente do Instagram de fotos de looks, ela as criticava! Numa retrospectiva de final de ano chegou a se gabar “nenhum post do look dia no ano”, como se o look do dia fosse algo inferior a posts de fofocas (ela escrevia demais sobre estilos dos famosos), tendências de moda e decoração. No entanto, a indústria da moda passava por uma mega transformação, as pessoas queriam ver meninas mais reais nas roupas e não só as modelos. (Hoje em dia muitas das blogueiras de moda famosa tem corpo melhor que a modelo da Victoria’s Secret, mas na época era mais low-profile.)
Fui percebendo que essa garota cada vez foi tendo menos anunciantes, fotos dela era raro e sempre estilo headshot, aquelas que só aparecem a cabeça e ombros. Pensei “ela engordou!” Fazia todo o sentido de não estar acompanhando a tendência do mercado, de não postar seu corpo. Todas as F*Hits estavam fazendo isso no momento, gostando ou não, dava dinheiro. Então comecei por curiosidade ver os stories dela no Snapchat. Batata! (Leteralmente) Ela estava comendo loucamente, muitos posts de comidas deliciosas, de vinhos… lembro que um dia comentei “parece delicioso, mas engorda”. E ela respondeu que tinha que aproveitar a vida, que esses eram os bons momentos, etc e tal. Isso foi sua escolha.
Quando a Victoria’s Secret desfilou no final de 2017, ela fez um textão dizendo que a marca não inclui modelos “plus size” e toda aquela ladainha de inclusão que está em voga no Brasil. De fato, eu não consigo entender porque uma marca pode se dedicar exclusivamente aos gordos, mas a outra não pode fazer o mesmo para os magros!
Essa semana percebi que ela continuava enciumada ao criticar as fotos da marca Revolve, que sempre usa blogueiras magras em suas ações, fotografadas em paraísos tropicais. Detalhe, uma colega dela de F*Hits está atualmente no meio de uma viagem a Tailândia postando fotos de biquínis bem pequenos promovendo a marca, enquanto ela está em casa postando fotos do Globo de Ouro, provavelmente comendo queijo com vinho.
Não entendo esse coitadíssimo que as gordas têm. Juro por Deus. Eu tenho problema sério de hormônios, tenho ovário policístico e hipotireoidismo e resolvi controlar tudo pela comida (sem medicamento) então engordo comendo certo e malhando. É bem complicado. Nas férias decidi não fazer dieta, em um mês sem dieta, mas sem comer que nem uma maluca, talvez fazendo uma refeição ruim por dia, engordei 13kg! Comendo café da manhã fit, correndo as vezes… minha mãe não engordou comendo praticamente as mesmas coisas que eu e bebendo cerveja as vezes, eu não bebo. Minha cunhada engordou 4kg. Ou seja, poderia levantar a bandeira do coitadismo e dizer que “sou gorda porque tenho hipotireoidismo e ovário policístico”, mas não, o que eu faço é comer menos, cortar açúcar refinado, glúten, lactose, sucos (amo sucos), queijos, carboidratos brancos e amarelos e malhar mais tempo. Não acho que a solução seja lutar para a mudança dos padrões de beleza do mundo, a solução é nos sentirmos bem como somos. Se não está bem, feche a boca e corra, não vai querer que o mercado mude por conta da sua compulsão por comida! Afinal de contas, um biquíni cortininha fica melhor numa mulher com um abdômen chapado, você sendo estilista vai querer vender seu produto, não é mesmo? Pense como empreendedor, não como o público final.
Um beijo e um ótimo 2018!
10 thoughts on “O seu problema de obesidade é seu, não da Victora’s Secret”
Linete Bino
Amei seu post! Fiquei vidrada lendo cada frase até o final… Nossa viajei junto com você. Adorei! E que pena que coisas assim aconteçam… Feliz 2018 e muita luz e sucesso✨
Irmãs Carvalho
Só li verdades nesse post! As transformações nessa blogosfera são constantes, tanto de forma, conteúdo, quanto de pessoas… E detesto esse vitimismo que está na moda… Gente, tem espaço para todas!!! Obrigado por suas reflexões!
Debora Wolf
Obrigada pelo seu comentário e um beijo
aboutgirlylife
Eu já fui prisioneira do corpo e da magreza e tento ao máximo aceitar o meu corpo. Confesso que não tem sido fácil. Ainda por cima vou na 2ª gravidez e estou bastante gordinha. Mas tenho de reforçar que o mundo da moda e a blogosfera e o mercado em geral nos pressiona bastante. Caso contrário, nem pensávamos no assunto. Por isso – ok, temos de aceitar quem somos e se quiseremos emagrecer temos de fechar a boca e correr; mas não é fácil ser feliz assim sinceramente. Sempre a tentar ser quem não somos!
Debora Wolf
Na verdade, atualmente na moda o mercado pra gordo está bem melhor. Hoje tem modelo gorda, roupa para gorda… e isso incentiva demais as pessoas serem gordas. Ser gordinha tudo bem, mas tem uma fase que já começa a dar doença. Ou seja, não é nem estética, não é legal. Eu já vesti manequim 46 e hoje uso 38, e me manter magra é muito difícil pq eu tenho problemas de hormônios. E vou te falar uma coisa, comprar roupa 46 era muito mais fácil que a roupa 38. E mais, moro em NYC. No shopping perto de casa as lojas não vendem manequim 2, que é o que eu uso, começam pelo 4! Se quero comprar meu número tenho que ir no centro da cidade. A indústria da moda está cada vez mais tolerante com os gordos o que não é bom. Minha avó era obesa, morreu na década de 90. Ela era a pessoa mais gorda que conhecia. Recentemente achei uma foto dela e pensei “uau, ela não era tão gorda”, hoje meninas adolescentes estão mais gordas do que ela, por que? Por causa dessa onda plus size que be obesidade como aceitação do corpo e não doença, e é doença. Posso citar varias doenças que tive sendo obesa, mas você já deve imaginar. Boa sorte
aboutgirlylife
Concordo que está bem melhor. Mas imagino que em NYC é beeeem diferente do que aqui em Portugal. Não vejo tantos obesos assim e são os gordos ainda que têm dificuldade em encontrar roupa. Mas acredito que esta euforia do plus size venha a dar nisso, claro!
Thanks
Debora Wolf
Aqui em NYC tem bem pouco obeso mórbido, a população é mais normal, mas por causa dessa onda plus o normal é mais gordo que nos anos 90!
Tamires Meireles
Adorei! se puder curta meu blog tbm e minha fanpage! bjss https://www.facebook.com/tamiresmeirelesblogpessoal/
babycatw
Concordo com tudo, falar que quer ser livre e comer o que quiser é uma escolha mas aceite as consequências, fora que influencia na saúde também. Mas culpar as marcas é só mais uma desculpa para ficar no sofá.
Debora Wolf
Sim. E assim como tem marcas plus size existem marcas para magras, o que não é o caso da VS