Comecei a ter estrias com 10 anos de idade. Lembro que a primeira vez que ouvi falar em estrias foi quando descobri te-las por isso pode ser que minhas estrias sejam ainda mais antigas porque criança na minha época, não ligava muito em estética!
Comprei um maio azul piscina com mini-flores brancas para a aula de natação que minha escola ia dar no verão. Estava me achando com aquele maio novo, já que era da coleção de adulto. Tenho 1,82m, quando criança já era mais alta que a maioria. Lembro de uma conversa entre minhas colegas no vestiário antes de ir para a piscina, Tânia dizia que tinha celulites, mas se gabava por não ter estrias, e explicou que eram “aquelas listras no do lado do bumbum”. Me olhei no espelho e eu não tinha celulite, era um pré-adolescente bem magra e minha menstruação só viria 3 anos mais tarde praticamente, que é quando a gente começa a “encorpar”. Mas eu tinha estria, fiquei triste porque achava que estria era pior que celulite, minha amiga havia acabado de dizer aquilo. Lembro que na ocasião fiquei tentando esconder a bunda com a toalha e minha aula acabou não sendo tão divertida quanto deveria ser. Depois não fui a mais nenhuma aula de natação da escola!
Anos mais tarde infernizei minha mãe para me pagar um tratamento para remover estrias, lá na década de 90 ainda. A dermatologista injetava um líquido em cada estria e depois de algumas seções elas “desapareciam”, eu tinha uns 13 anos. Tinha grandes chances de melhora segundo a médica, pois as estrias ainda eram vermelhas.
Depois da primeira aplicação apareceram tantos hematomas em meu bumbum que a médica resolveu interromper o tratamento e devolver o meu dinheiro que havia pago para as outras seções.
O que aprendi tendo tantos anos de estrias é que depois de anos elas embranquecem, como todos sabem, mas depois elas ficam quase imperceptíveis da cor da pele, hoje me considero sem estrias, embora elas devam existir, mas não aparecem mais.
Mas na gravidez a coisa é um pouco diferente. Conheço mulheres que tiveram estrias realmente grossas e profundas na barriga, muitas estrias nos seios e bumbum. Tenho uma amiga que inclusive teve que tirar a pele da barriga com plástica para ter uma barriga menos “desenhada”. Essas histórias me aterrorizavam, principalmente porque geralmente mães magras tendem a ter barrigas maiores em relação ao corpo das mais cheinhas, na época que escrevi esse texto estava 20kg mais magra.
Comecei a ler sobre prevenção a estrias, tanto em inglês como em português. A maioria dos artigos recomendam uma porção de cremes, geralmente bem caros. Recorri a um fórum de PCOS (mulheres com ovários policísticos), lá conversamos sobre tudo que envolve o mundo feminino e como milhares de mulheres participam, temos muitas opiniões diferentes, o que é ótimo!
Perguntei qual creme elas recomendavam para prevenir estrias. Algumas meninas disseram alguns cremes, recebi até receita caseira com abacate. Minha mãe quando grávida, usou óleo de amêndoas (mas poderia já estar “datado”, passaram-se mais de 37 anos desde sua última gestação, mas ela não teve estrias. No entanto, varias mulheres disseram aquilo que não queria ouvir; que hidrataram a gestação toda a barriga e inevitavelmente as estrias apareceram. Uma amiga também confidenciou isso, mas eu não acreditei, achei que ela não hidratava o suficiente, a gente e a mania ridícula de julgar os outros.
Nesse meio tempo fui no Amazon e comprei dois produtos para barriga de grávida! O Burt’s Bees Baby Bee Belly Butter – Shea Butter & Vitamin E e o Earth Mama Angel Baby Body Butter for Pregnancy Stretch Marks. Quando os dois chegaram percebi que eram produtos com menos química, o Burt’s Bees é totalmente sem cheiro e o Earth Mama tem uma leve fragrância, além desse bico dosador que impede o nosso contato direto com o produto, o que gosto mais.
No entanto, após ler tantos relatos negativos sobre as estrias, resolvi marcar uma consulta com um dermatologista! Também queria já começar a prevenção do melasma, aquelas manchas escuras no rosto que as mulheres adquirem ao longo da gravidez.
Olhei no meu convênio e achei um chinês em Flushing, bairro oriental em Queens, Nova York e me interessei por ele, li as reviews e pensei “asiático tem a melhor pele, ele vai me passar o segredo das asiáticas”.
Uma coisa que vale a pena mencionar é que aqui a gente pode marcar consulta por um App chamado Zocdoc, e foi assim que fiz. Esse App além de marcar a consulta, coloca no seu calendário do iPhone o horário, local e outros detalhes sobre a consulta, além de te avisar quando você deve sair de casa baseado no transito naquele momento. Alguns minutos mais tarde no meu calendário apareceu uma informação que eu seria atendida por um membro da equipe daquele médico, não o médico em questão, e eu podia apertar um botão para aceitar ou cancelar a consulta. Isso é infelizmente muito comum aqui nos EUA, você marca a consulta com um médico, mas é atendida por um médico menos experiente de sua equipe!
Os consultórios aqui são desenhados de outra forma também com relação ao nosso estilo brasileiro. São varias mini-salas que o enfermeiro te coloca para ser finalmente consultada pelo médico. Em geral quem começa o atendimento é uma enfermeira. Ela faz as perguntas básicas, te pesa, mede sua pressão e pergunta o motivo de sua visita. Depois ela te leva a uma sala, assim eles podem atender múltiplos pacientes ao mesmo tempo, deve ser eficiente para eles, para nós mais impessoal – estilo multirão. Depois de algum tempo o médico chega, dessa vez foi um chinês jovem. Falei o motivo da minha consulta e ele disse que tanto melasma como estrias não tinha prevenção!
O melasma ele explicou que ocorre por mudanças em hormônios durante a gestação, e que isso não deve ser controlado porque se não atrapalha o desenvolvimento da criança. Ou seja, ninguém deve tentar controlar os hormônios da gravidez.
Sobre estrias ele disse que é sobre o seu tipo de pele ou seja genética, e nada tem a ver com o quanto de peso você ganha ou o tamanho do seu bebê. Explicou que sua esposa deu à luz a um bebê que pesava 8 libras (3,6 kg) e não teve uma estria, mas a amiga da esposa deu à luz a um bebê prematuro que pesava menos de 4 libras (1,8kg) e teve estrias. Acrescentou que os produtos preventivos para as estrias no mercado são um engodo, não ajudam em nada a prevenção de estrias!
Então perguntei sobre os cremes e produtos de higiene que uso. Levei fotos de vários, principalmente porque tenho acne e dúvida sobre o ácido salicílico. Ele falou que não existem provas que isso faz mal ao bebê. Disse que poderia usar, falando como médico. Mas falando como “marido” ele sugeriu para eu manter o quesito higiene o mais simples possível. Usar apenas um creme hidratante, protetor solar e sabonete. Falou para não usar inclusive desodorante (que acho que não consigo, mas tenho desodorante sem alumínio e vou usar esse pelo menos durante o verão). O médico lembrou que os cientistas sempre fazem novas descobertas de coisas que antes eram consideradas ok, mas depois são consideradas ruins, por isso era melhor prevenir! Então decidi que assim seria!
Então o antigo óleo de amêndoas da minha mãe talvez seria a melhor escolha para a hidratação, porque é 100% natural, mas de fato, isso não iria previnir as estrias.
Falei para o médico que já havia sido obesa, ele me perguntou se tinha tido estrias na ocasião, disse que não. Então ele me acalmou e disse que isso era um bom sinal, que provavelmente não teria na minha gestação. Minha mãe também não teve estrias, e esse era outro bom indicativo, então fiquei confiante.
Sai da consulta um pouco frustrada, mas feliz com a sinceridade do médico. Ele disse que a esposa dele não usou nem maquiagem durante a gravidez e espero que consiga levar essa mesma naturalidade para os meus próximos 8 meses, afinal de contas a saúde do bebê é mais importante que minha beleza no momento!
Esse post foi escrito há um ano atrás, depois decobri que minha gravidez era etopica e vivi o maior pesadelo da minha vida.