Quando recebi “sinal verde” que estava grávida, abaixei aplicativos de acompanhamento de semana a semana, procurei a respeito no Google e em fóruns a cada exame que fazia e também tive a oportunidade de ler alguns livros. É, estamos na era da informação e os pacientes hoje em dia tem muito mais conhecimento.
Cai no tópico gravidez ectopica muito antes de engravidar, foi assistindo a “instagramer” Shantal Verdelho que também sofreu a gravidez ectopica. Logo depois fui fazer aquele exame ultra doloroso que checa nossas trompas, o HSG (histerossalpingografia em português) e confesso que essa possibilidade era meu pior pesadelo por dois motivos, você não pode continuar uma gravidez ectopica porque ela gera risco de morte a mãe e segundo, dependendo de onde o bebê está você corre o risco de perder o órgão, geralmente uma trompa e aumenta as chances de infertilidade! Então temia gerar um bebê nas trompas porque quando fiz o exame para ver minhas trompas eles viram uma trompa limpa e sadia, a outra não foi possível ver então temia perder minha única trompa boa, o que dificultaria ainda mais as chances de ter um outro filho naturalmente.
Para quem não me conhece e está lendo esse post sobre minha história pela primeira vez, tenho vários condições que dificultam a engravidar; síndrome do ovário policístico, hipotireoidismo, resistência à insulina, 5 miomas pequenos e um resultado inconclusivo sobre uma das minhas trompas. As vezes pensava que engravidar sem tratamento médico comigo só aconteceria através de um milagre. E eu engravidei após um ano sem tomar anticoncepcional e sem tratamento caro, somente tomando clomid!
Então quando obtive o primeiro resultado positivo de gravidez comecei ir a obstetra semanalmente e para o nosso desespero o hcg crescia normalmente, mas não existia nenhum bebê no útero! Não só bebê mas nada, saco gestacional, placenta… a priori o bebê era pequeno demais então parecia tudo ok, mas depois o índice de hcg estava aumentando e já estava bem acima do que se e possível ver alguma coisa no ultrassom e nada! Não viram o bebê nem no útero e nem em outro lugar!
Fiz ultrassons com diversas máquinas e profissionais, sendo que no dia que diagnosticaram gravidez ectopica refiz o exame seis vezes, fiquei internada e tomei remédio na veia e nada do bebê. Então as médicas, tanto a minha obstetra regular como a ginecologista do plantão do hospital optaram por interromper a gravidez nesse ponto com uma injeção de methotrexate, que é um medicamento usado na quimioterapia e faz com que o bebê pare de crescer. A injeção só é indicado para gestações no início, pensei em recusar em tomar a injeção, mas as médicas começaram a me amedrontar que o bebê poderia “explodir” algum órgão e me causar hemorragia interna e morte, além de me consolarem de que em três meses poderia tentar de novo. (O que não é bem verdade).
Recorri a internet mais uma vez, li casos de pessoas que tiveram sucesso com gravidez fora do útero, mas a proporção era uma em um milhão, e nenhum dos casos era bebe na trompa. E a médica disse que se eu recusasse a tomar a injeção teria que assumir a responsabilidade. Frustrada consenti.
E aqui abre um parênteses, se você acha fiz errado em aceitar a prescrição das médicas, não diga nada, pois isso já foi traumático o bastante! Tenha empatia!
Por sorte minha gravidez não explodiu as trompas e naquele hospital eu achava que era o fim de tudo, mas era só o começo do pesadelo! Gravidez ectopica é uma condição não muito comum que acontece em uma ou duas vezes a cada cem gestações e a maioria das gravidezes ectopicas ocorrem nas trompas. Lamentavelmente não foi possível achar meu bebê no consultório ou hospital naquela época, mas a médica sugeriu que poderia estar até próxima ao estômago! Como o embrião viaja até lá eu não sei! Mas dias depois foi achado uma sombra na minha trompa direita e mesmo antes disso passei a sentir dor exatamente do lado direito da minha pélvis. Fiz um desenho de locais aonde pode acontecer a gravidez ectopica, elas estão representadas com corações.
A gravidez ectopica nada tem a ver com qualquer condição de saúde que tenho e citei acima, como síndrome do ovário policístico, hipotireoidismo ou miomas, ela é mais comum em pacientes com histórico de:
- Tabagismo ou alcoolismo;
- Doença inflamatória pélvica, que pode surgir a partir de infecções por clamídia ou gonorreia;
- Inflamação ou cicatrizes nas trompas;
- Condições médicas que afetam o formato e a condição das trompas e dos órgãos reprodutivos;
- Dispositivo intrauterino (DIU);
- Tratamentos para infertilidade (Clomid?);
- Cirurgias tubárias;
- Laqueadura;
- Endometriose;
- Malformação das trompas (oi!);
- Fatores hormonais;
- Anomalias genéticas;
- Defeitos congênitos.
- Mulheres que usam ducha higiênica;
- Gravidez após os 35 anos;
- Mulheres que fizeram cesárias.
Eu tenho mais de 35 anos, tomei clomid e meu bebe estava na trompa boa! Alguma deformação que nem o exame pegou!
Após ter uma gravidez ectopica infelizmente a gente corre mais risco de ter uma segunda gravidez ectopica. Antes de ter a primeira ectopica a mulher tem de 1 a 2% de chances ter uma gravidez ectopica, e estudando descobri que esse número sobre para 15% para a segunda ectopica, minha pesquisa comprovou que esses números estão certas. Fiz a pergunta num grupo que participo:
Fiz uma enquete num fórum de mulheres que tiveram gravidezes ectopicas, perguntei quem após ter uma gravidez ectopica teve uma gravides sadia ou uma outra gravidez ectópica. Nos Estados Unidos um bebe que bem após uma tragédia é chamado de “bebe arco-iris”, porque sempre após uma tempestade tem um arco íris. Então, 290 mulheres responderam a enquete. Dessas mulheres 196 tiveram uma segunda gestação que resultou num bebe, o que representa 67,60% das gestações. 48 mulheres perderam o bebe, são 16,55% das mulheres. E finalmente 15,85% das mulheres tiverem outra gravidez ectopica. O que é desesperador.
Depois de sofrer uma gravidez ectopica, ter outra gravidez ectopica parece um pesadelo. Tanta dor, sofrimento, choros, medos, angústias e solidão, dá até vontade de abrir mão de ser mãe! Juro!
Dias antes do diagnóstico de gravidez ectópica tive um sangramento e ele ficou pingando sangue marrom por uns três dias e isso alertou as medicas. Não sabia mas corria o risco de de ter uma hemorragia grande e incontrolável podendo colocar minha vida em
Jogo. No entanto, quando fui internada estava saudável, sem sangramento, sem dores ou cólicas.
O meu tratamento foi feito com uma injeção perto do bumbum. Esse tratamento só foi possível porque minha gravidez ectopica foi detectada precocemente e está ai a importância de fazer acompanhamento pré-natal cedo, pois se não pode ocorrer ruptura da trompa e causar hemorragia interna – o que é um perigo. Mesmo tomando a injeção para interromper a gravidez não quer dizer que você não vai precisar de cirurgia, infelizmente. Essa injeção só é o começo de tudo. Vi em fóruns do Facebook muitas mulheres preferindo a cirurgia porque acaba com o problema de vez e não deixa seu organismo com tanto veneno! Depois do metotrexato você não pode engravidar por pelo menos três meses, tem que acompanhar o hcg chegar a zero, o que para mim demorou dois meses e meio. Todo esse período você pode ter ruptura! Você não pode fazer esforço ou sexo, além de ter que ter uma dieta pobre em fibras – isso me engordou muito!
Em gravidez mais avançada pode ser necessário cirurgia por incisão na barriga, como uma cesária. Caso haja a constatação de gravidez ectopica precisa-se tomar decisões imediatamente pois é uma gravidez muito arriscada inclusive para a mãe.
No entanto, para preservar sua trompa e tentar manter sua fertilidade inabalada, o melhor é tomar a injeção de metotrexato, mas isso não é garantia. Para fazer o tratamento com injeção você precisa se encaixar em todas as categorias:
- Os níveis de HCG devem estar baixos (menos de 5.000);
- O embrião não pode ter nenhuma atividade cardíaca;
- O embrião deve ter menos de 4 cm;
- Não deve haver rupturas na trompa.
Depois de tomar a injeção precisamos acompanhar pelo menos uma vez por semana para ver se o hcg está diminuindo através de exames de sangue. Também fazia ultrassons as vezes duas vezes por semana. Fiz o acompanhamento com a minha ginecologista regular, achei que o tratamento seria mais rápido e simples, mas não foi. Escrevi mais posts sobre o tratamento que vou publicando mais a diante como forma de diário.
2 thoughts on “Gravidez Ectópica”
Vania
Oi Débora!
Tenho acompanhado teus posts.
Então, eu passei por um aborto espontâneo tem 45 dias. Sei bem como voce se sente. Estou com 37 anos e as causas foram indeterminadas. Também tenho ovários policísticos e depois de quase 2 anos tentando, aconteceu. Nunca havia tentado, fizemos todos os exames possíveis e também foi indicado pelo meu endocrino o CLOMIFENO, mas não cheguei a tomar. Perdemos nosso bebê com quase 9 semanas, foi bem difícil para mim… Agora, estou me preparando para a próxima. Espero em breve podermos estar mamães e compartilhar nossas experiências… Tenha fé, tudo dará certo! Bjo grande
Debora Wolf
Eu sinto muito pela sua perda! Como eu perdi a única trompa “boa” que tinha, agora não engravido mais naturalmente, só por fertilização in vitro. Boa sorte 🍀 Também tenho 37, achei que nunca ia casar ou tentar ser mãe! Ahah