Sempre fui uma solteirona convicta e se você ler meus posts antigos, vai achar artigos estilo feminista de ranço de homem – não estilo não raspa suvaco, balança teta na paulista ou pior, petista. Costumava dizer que homem só servia pra abrir embalagem de vidro, até que aprendi a abrir a abrir sozinha.
Teoricamente para mim naquele momento, homem não prestava para nada!
Sempre disse que seria solteira e cuidaria dos meus pais. Esse era de fato o meu plano! Até que comecei a observar o ciclo da vida. Meus amigos namoravam e casavam, e cada vez mais me tornava a preterida na vida de todos eles. Também me liguei pelo simples fato que se a vida acontecer no curso normal, ficaria viva e sem meus pais e consequentemente sozinha por pelo menos 20 anos, por ser essa a nossa diferença de idade. Meu irmão não teria obrigação nenhuma de ficar comigo e não fazer sua família. A solidão era uma coisa que só demandaria tempo!
Paralelamente comecei a ler mais sobre vida e felicidade. Achei um experimento científico feito durante 75 anos com as mesmas pessoas que as pessoas mais felizes eram aquelas que tiveram um amor. Ah, mas eu tenho o amor dos meus pais, irmão e familiares, mas como escrevi acima, tudo isso poderia se passar e eu ficar sozinha. Óbvio que casamento não é segurança de viver uma vida completa pelo resto da vida, mas é uma tentativa.
Quando conheci meu marido vi que ele tinha qualidades importantes e parecidas com as do meu pai. Já ouvi muitas pessoas dizendo “quando procurei um marido queria algo muito diferente do meu pai.” Eu não! Meu pai é a melhor pessoa que já conheci na vida. Ter alguém com um pouco de suas características seria um presente. E eu fui contemplada!
Logo me conectei profundamente com meu marido. Acho que o fato de morar em outro país, não ter familiares por perto e amizades mais superficiais fez com que nos ficássemos mais e mais um dependente do outro. E as vezes esse amor é tão tão grande que até dói! Por exemplo, durante as noites da semana e final de semana minha prioridade é ficar com ele, já que ficamos muitas horas separados durante o dia. As vezes uma amiga me convida para fazer algo que sei que isso vai diminuir o tanto de tempo com o meu marido eu já começo a não curtir o programa e ficar angustiada para voltar para casa. Não gosto mais de ficar sem ele nem que por algumas horas e sei que isso não é algo positivo, mas aconteceu exatamente porque aqui em Nova Iorque só temos um ao outro.
Mas sabe porque também é bom ter um marido? Para quando você quiser ficar em casa deitada vendo tv, ter uma companhia para conversar e abraçar… Para quando você ficar doente, tem alguém para te trazer comida na cama. Para ter alguém que faz das tuas prioridades a dela, te ajuda e sonha os seus sonhos. Você tem menos medo, porque tem alguém caminhando contigo. Inclusive menos medo financeiro porque sabe que você não é só um e sim são dois, um para ajudar o outro. Se eu pudesse mandar um recado para aquela Débora de 10 anos atrás com tantas ideias anti-homem talvez perderia menos tempo sendo amarga, escrevendo bobagens sobre homens na internet… mas talvez isso não teria me feito conhecer meu marido, uma pessoa maravilhosa, por isso também acho que tudo que acontece na vida tem um propósito! Se não tivesse sido tão feminista e postergado tanto a começar a namorar, se não tivesse tido um relacionamento traumático ainda estaria no Brasil sofrendo a violência e o desgoverno Bolsonaro. Enfim no final tudo foi feito para eu chegar a ele. Sabe aquilo de que nada acontece por acaso? Pois é!
Com relação à bebês sempre foi a mesma história. Quando descobri meu ovário policístico fiquei até feliz que poderia ser infértil. Infantil não sabia das consequências e até risco aumentado de câncer diante desse diagnóstico. Eu só estava feliz com a quase ausência da menstruação e com a possibilidade de não poder ter filhos – crianças me davam dor de cabeça. Isso só endossava a minha veia feminista e mostrava para o mundo que eu seria livre. O que eu não sabia que liberdade não era ser sozinha, solteira e sem filhos, ser livre era poder fazer o que quiser. E um diagnóstico de infertilidade mesmo antes dos 20 anos era uma condenação!
Na época não era meu sonho ter um filho, eu tinha horror a criança dando “show” na rua! Mas o que nunca parei para pensar é que essa fase é curta, passamos mais tempo na fase adulta do que como bebê, criança ou adolescente. Se tivesse um filho seria abençoada com uma amizade para sempre. Mas na época não sabia de nada disso.
Também tinha medo de engravidar. Se o bebê entrou dentro de mim como uma célula, algum dia ele teria que sair grandão. Cirurgia estilo cesária me amedrontava, você já viu quão fundo são os cortes? Melhor seria um parto normal, mas a gente sabe que ele envolve muita dor e não é a gente que escolhe no final das coisas. É muito ruim não ter o controle das coisas nas mãos.
Mas quando eu engravidei eu fui atingida por um sentimento de amor e calma. Comecei a estudar tudo o que seria melhor para meu bebê. Até fui atrás de partos mais naturais e feitos por auxílio doulas ou feitos 100% enfermeiras. Na verdade aqui nos EUA a enfermeira especializada em parto é chamada de “midwife” . Midwives geralmente trabalham com parceria com médicos em hospitais, clínicas e são contratadas por mulheres que buscam um parto mais holístico.
Logo comecei a desejar meu bebê mais do que qualquer coisa nesse mundo! Meu marido dizia “justo você que não queria ter filho”? So lia livros sobre gestação, pesquisava nomes, tanto de homem como mulher, planejadas o meu ensaio de grávida. Ia fazer um por mês na JC Penny, loja de departamentos que tem estúdio fotográfico. Também já pensava naquela coisinha morena correndo comigo nos parques de Nova York. Se fosse menina ia inscrever na ginástica olímpica, se fosse menino na natação. Foram tantos planos e tantos sonhos que quando perdi meu bebê me senti anestesiada. Sabia que tudo na minha vida era com drama e isso me tornaria uma mulher mais forte.
Foi assim amando meu marido e amando meu bebê que nunca nasceu que descobri uma nova mulher capaz de amar demais. E percebi que todas aquelas minhas teorias ranhentas era só medo de não achar o amor, e se caso eu não achasse já estava previamente justificado. A vida não é fácil para quem teme o amor. Pensem nisso!
One thought on “Solteira e sem filhos, e dai?”
Pingback: Solteira e sem filhos, e dai? — Debora Wolf | O LADO ESCURO DA LUA