Dói, dói muito uma gravidez ectopica, que é a gravidez quando o bebê está fora do útero. Não saberia dizer se dói mais a dor física ou a dor “na alma”. Mas dói e aqui vale a lembrar a importância de um pré-natal cedo e o excesso de preocupação antes de estar tudo ok com o bebe!
Fui ao médico no dia seguinte ao teste de farmácia apontar minha gravidez. Desde então, fazia exame de beta-hcg semanalmente e ultrassom. Era triste porque os três ultrassons que fiz durante a gravidez, nenhum mostrava bebê no útero. Óbvio que fui estudando isso em doses homeopáticas e quando a médica pela primeira vez falou em gravidez ectópica eu já sabia do que se tratava e fiquei apavorada com a possibilidade de perder uma das trompas.
A gravidez ectópica é uma gravidez que não pode levar a diante porque o bebê está fora do útero, então ele está em algum lugar que não é elástico e provavelmente vai “explodir” algum dos seus órgãos, seja a trompa, o ovário ou até o estômago. Por isso, a necessidade de interromper essa gravidez rapidamente antes do bebê crescer mais. É muito triste esse diagnóstico, principalmente para uma mulher com tantos problemas ginecológicos como eu. Tenho síndrome do ovário policístico, hipotireoidismo, uma trompa não visível no HSG e 5 miomas! Para mim engravidar naturalmente foi um “milagre” que depois virou um pesadelo, porque além de perder meu bebê, poderia ter perdido algum outro órgão e até morrido!
O primeiro sinal da gravidez ectópica, além de ausência de saco gestacional no útero no ultrassom, foi um sangramento. Primeiramente vieram dores nas costas e ombros, muitas dores, mas até aí não sabia que era sinal de gravidez ectópica. Eu achei que era porque meus seios haviam crescido e meu sutiã não tinha sustentação suficiente. Eu uso sutiã de alça de 0,5cm, tenho-a seios pequenos e nunca precisei de sustentação. Mas como os meus peitos já haviam crescido um pouco, achei que precisava de um sutiã mais forte. Fui ao shopping comprar um sutiã e quando voltei para casa tinha um sangramento leve, mas era um sangramento!
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O sutiã que uso da marca “No Boundaries” que compro no Walmart.
Entrei em contato com a médica no sábado por e-mail e ela disse para eu ir ao consultório fazer um exame. O beta-hcg mostrava o bebê em crescimento normal e o ultrassom a ausência de bebê! Na hora ela apareceu bem séria e me instruiu a ir a um “emergency room” de algum hospital já insinuando a gravidez ectópica.
Liguei para meu marido e fomos correndo. É muito chocante os “emergency rooms” aqui dos Estados Unidos. Você vê uma porção de gente doente, tudo deitado em macas para tudo quanto é lado. Quando me colocaram uma camisola hospitalar e um soro na veia eu quase surtei. Eu estava bem e aquela internação parecia sem sentido.
Eu internada no dia que comecei o tratamento de aborto da gravidez ectopica.
Fiz mais exame de sangue, eles fizeram outro beta-hcg e um exame para ver meu tipo sanguíneo. Essa foi o primeiro exame que fizeram na ginecologista também, na gestação geralmente é porque RH negativo é necessário fazer um “tratamento”, mas nesse caso acredito que era caso precisasse de transfusão de sangue.
Depois de tomar quase duas bolsas de soro fui encaminhada para o ultrassom. Quem fez dessa vez foi um técnico. Nada foi visto! Aqui a pessoa que faz o ultrassom é proibida de falar qualquer coisa. Logo depois a ginecologista me chamou e começou a ver meus exames. Nada de bebê.
Ela perguntou se ela mesmo poderia repetir o exame. Disse que sim! Depois fez outros exames e percebeu que não tinha sangramento, mas também não tinha bebê. Meu feto não foi localizado nas trompas, o que para mim naquele momento seria o pior diagnóstico. Morria de medo de perder uma trompa, ter que fazer cirurgia de emergência abrindo a barriga. Aqui vale um parêntese. Eu tinha ido no médico no mesmo dia que fui ao hospital e minha única refeição nesse dia foi o café da manhã. Quando percebi que poderia ter que operar de emergência já parei de comer. Fiquei com medo de ficar ainda mais tempo no hospital.
Então após a médica do hospital detectar que não tinha bebê ela falou que ia ligar para a minha médica para decidirem o que fazer e a decisão foi tomar uma injeção para abortar. Dos males o menor. Eu tentei contestar, como iam me dar uma injeção se não viam o bebê? Como tinha 5 fibroids fora do útero o bebê poderia estar sendo escondido por elas, mas eu não tinha nenhuma fibroide no útero, então o bebê estava de fato fora do lugar.
A médica disse que poderia me recusar a tomar a injeção para impedir o crescimento do meu embrião, mas que poderia morrer e eu teria que me responsabilizar por Isso! Nesse meio tempo fui fazendo pesquisas e levar uma gestação dessa para frente é muito arriscado, se o bebe estivesse na cavidade abdominal ainda tinha uma chance, mas nas trompas não e o bebe nem tinha sido visto, eu nem sabia aonde ele estava – depois descobri que estava na trompa direira. Acabei aceitando a injeção. Conforme o líquido foi geladinho foi entrando dentro de mim, uma angústia tomou conta dos meus pensamentos. Essa era a pena de morte de alguém, meu bebe e para mim uma vegetariana desde os 13 anos de idade por compaixão pelas entidades vivas foi um duro golpe. A gente precisa aprender que nem tudo está sob o nosso controle.
Sai do hospital no mesmo dia. A médica falou que poderia começar a sangrar em 4 horas. Não tive sangramento e nem dor durante três dias! Eu já estava até ficando preocupada que o bebê ainda estivesse crescendo. Nesse caso precisaria outra injeção ou cirurgia.
Mas depois o sangramento começou e o beta-hcg começou a diminuir! Saíram coisas também, pedaços e coágulos de sangue de dentro de mim. Pedaços maiores que o da menstruação mas dizem que nada disso era o bebê.
O sangramento do “aborto” também é diferente da menstruação. Ele é mais líquido e vermelho. Enquanto o absorvente na menstruação fica com a primeira camada encharcada de sangue e somente pouco sangue vai para o final do absorvente (naquela parte plástica), o sangue do aborto vai praticamente todo para o fundo do absorvente. Você olhando o absorvente de cima só tem uma borrinha vermelha, na parte de baixo está encharcado. A médica falou que era muito importante observar a quantidade de sangue nesse periodo. Se tivesse que usar dois absorventes e eles ficassem encharcados em uma hora, era sinal de hemorragia e que deveria correr para o hospital, e teria que ser de ambulância para ter pronto atendimento. Você só tem prioridade no atendimento nos hospitais se você chega de ambulância aqui nos Estados Unidos, caso contrário passa por uma fila e triagem de horas!
Não tive a hemorragia pesada, mas sangrou bastante. Tipo usando um absorvente por hora durante alguns dias. Você sente inclusive que está saindo tanto sangue que parece estar fazendo xixi. Comecei a ficar apavorada e com medo de ter que fazer transfusão de sangue. No dia que estava lá tinha uma mulher com muito sangramento e o médico falou que ela teria que fazer transfusão de sangue!
Comecei comer beterraba em todas as refeições, açaí, castanhas e sementes, tudo que lia que tinha ferro. Evitei laticínios, que dificultam absorver ferro. E sempre comia alguma fruta cítrica como laranja, limão ou morango. Se essa medida ajuda? Não sabia, mas foi o que fiz para tentar evitar mais problemas. Depois descobri que comer vegetais era proibido no início do tratamento, mas as médicas nunca me alertaram disso isso resultou num tratamento mais longo e dolorido!
Quando você começa a perder sangue, as vezes vem muita dor. Minha gravidez já estava dolorida desde o começo e a médica a princípio disse que era por causa dos miomas. Então sempre tive uma leve cólica! Quando estava perdendo o bebê a cólica intensificou e vinha bem forte, como pontadas e era impossível até ficar sentada. Dava um suador. O único remédio que se pode tomar segundo a médica era Tylenol, outros remédios entrariam em conflito com o tratamento ou poderia até causar cirrose. Tylenol não funciona nem pra minha dor de cabeça, então sofri, mas sofri de dores intensas durante alguns dias. Óbvio que não era o tempo todo, mas as dores vinham de vez enquando e me tiravam até do eixo. Foi difícil, foi dolorido e eu fiquei quase o tempo todo sozinha, contando apenas com a boa vontade do meu marido e sua boa intenção em me deixar mais confortável.
A gravidez ectópica ocorre em 2% das gestações. A maioria das gravidezes ectopicas ocorrem nas trompas, cerca de 70%. Mas também podem acontecer no cérvix, abdômen e ovários. A minha foi na trompa direita, mas meu bebê nunca ficou visível no ultrassom. Por ter mais de 35 anos e ter tomado clomid (remedio que auxilia a ovulação), acredito que isso auxiliou a ter uma gravidez ectopica. Talvez as minhas trompas sejam defeituosas e não tem exame que confirme isso quando fiz o HSG a trompa direita pareceu “sadia”. O que me atormenta mais no momento é que após ter uma gravidez ectopica as minhas chances de ter uma outra aumenta para 25%. Lendo na internet achei muitas mulheres que perderam as duas trompas! É aterrorizante passar por isso de novo! Não só as dores ou o medo de morrer mas a infelicidade de perder outro bebê!
Ainda choro quando lembro desse drama! Eu comecei a sangrar no mesmo dia que a Penélope, minha gatinha querida morreu no em 2017, dia 20/08! Penélope morreu em 2017 e meu aborto foi em 2018! Se algumas pessoas querem pular o dia 13 dos meses, eu pularia o dia 20 de agosto!