Sim, não sei quantas vezes recebi “parabéns” após relatar estar sofrendo uma gravidez ectópica. Muitas pessoas somente associam a gravidez ectópia a complicações na gestação e no melhor dos casos, a “aborto espontâneos”!
Você já ouviu dizer que aborto em caso de risco de morte da mãe é aceito no Brasil?
Então, aqui nós entramos a categoria da gravidez ectópica. Antes de continuar, acredito que precisamos dar uma olhada rápida no dicionário, o que significa ECTÓPICO?
Adjetivo:
1. relativo a ectopia.
ECTOPIA: nome feminino
MEDICINA: anomalia de um órgão que não ocupa a posição normal.
Do grego ek, <> + topos <> + ia
2. o que ocorre ou funciona em posição anormal.MEDICINA: gravidez ectópica
Implantação e desenvolvimento de um óvulo fecundado fora da cavidade uterina, gravidez extrauterina.
Fonte: Dicionário de Língua Portuguesa da Porto Editora.
Bom, então já entendemos que a gravidez ectópica é uma gravidez fora do útero, certo? Ela pode acontecer em vários lugares como cicatriz de uma cesárea anterior, ovários, abdômen…, mas o mais comum é nas trompas. As trompas são da espessura de um canudinho plástico, então quando o “bebê” começa a crescer, ele começa a inchar a trompa afetada, correndo o risco de ruptura. Em caso de ruptura inicia-se uma hemorragia interna e coloca a mãe em risco de morte. Por isso é sempre bom fazer um pré-natal adequado desde o comecinho da gravidez afim de evitar complicações.
Não tem como continuar uma gravidez nas trompas. Porque após o rompimento da trompa, com a hemorragia o bebe morre. Li relatos que pessoas que levaram a gravidez ectopia a diante, mas é sucesso entre um em 3 milhões e o bebe não estava nas trompas e sim na cavidade abdominal.
Quando a ruptura acontece, geralmente retiram a trompa condenada. E isso a mulher perde em 50% as suas chances de engravidar. E aqui vem os dados mais aterrorizantes! A gravidez ectópica acontece de 1 a 2% de todas as gestações, mas após você ter uma gravidez ectópica as chances de você ter outra gravidez ectópica sobe para 25%! Eu até fiz uma enquete numa comunidade que participo para checar esses números que li em artigos científicos e parece estar compatível:

Perguntei quantas mulheres depois da primeira gravidez ectópica teve uma segunda gravidez ectópica. Aqui nos EUA eles chamam de rainbow baby que é o “bebê arco-íris” que é o bebê sadio que nasce após “uma tempestade”. Miscarriage significa perder o bebê (em condições adversas a gravidez ectópica) e obviamente ectopic pregnancy é a gravidez ectópica!
Geralmente quem sabe da gravidez ectópica são aquelas pessoas que sofreram a tal da gravidez ectópica, porque como escrevi anteriormente, muitas pessoas não conhecem o termo, acham que é no “melhor” dos casos um aborto espontâneo.
No meu caso, descobri a gravidez ectópica logo no começo. Fiz meu primeiro ultrassom logo após o primeiro dia de atraso menstrual e meu bebe nunca foi visto no útero. Na sexta semana minha medica optou pelo tratamento de uma injeção de metotrexato que é uma medicação da quimioterapia usado também para pacientes com alguns tipos de câncer e que vai matar o seu bebê! Óbvio que a injeção tem vários efeitos colaterais para a mãe também, dentre eles sangramento que pode nos causar anemia, além de abaixar nossa imunidade.
Depois de tomar a injeção comecei a fazer exames de sangue a cada três dias, depois o intervalo aumentou para exames semanais. Foram exames de sangue acompanhados de ultrassonografias. É desesperador, não os exames, mas esperar os números abaixarem, ter resultados não satisfatórios e medo de ruptura da trompa afetada, sim porque até o nosso beta-hcg ficar inferior a 5 temos chances reais de quebradura e hemorragia.
Muita gente sem conhecimento acha que após você tomar a injeção você já “está curada”, mas esse é só o começo de uma novela cheia de medos, choros, dores principalmente na pélvis, solidão, visitas constantes ao médico, ansiedade, angustia e depressão. É desesperador não ver o cisto diminuir ou o beta-hcg não baixar! E eu não estou aqui nem listando a dor de perder um neném desejado e já amado. A maioria das pessoas que não viveram essa experiência acham que você está exagerando, por isso, para tirar suas dúvidas aconselho a procurar fóruns na internet sobre gravidez ectópica, eu entrei em dois no Facebook e foi a melhor coisa que fiz, poder conversar com mulheres com dramas parecidos. Sempre que tinha um medo escrevia no grupo e mulheres que estavam vivendo o mesmo pesadelo que eu ou já tiveram histórias semelhantes e muitas respondiam, o que foi melhor do que as “amigas reais” que me parabenizavam ou questionavam se realmente estava gravida.
Outra forma de tratamento da gravidez ectópica é o cirúrgico. A maior parte das vezes ele acontece após a ruptura. A cirurgia não tem nada a ver com a curetagem, lembre-se que o bebe não estava no útero! A cirurgia geralmente é feita por laparoscopia, ou seja, dois ou três furos na barriga. Nesse caso a recuperação é mais rápida que a injeção, porque se tira o embrião e não fica aquela ansiedade de ruptura. Mas a desvantagem desse tratamento é que em geral a paciente perde a trompa o que pode dificultar a gravidez natural.

Fonte: wikihow
Esse post é apenas informativo, ao invés de dizer parabéns no caso de uma gravidez ectópica, o “meus pêsames” é mais apropriado.
Se você tiver alguma outra experiência com a gravidez ectópica e quiser compartilhar com a gente, fique à vontade para fazer isso nos comentários e aqui fica o meu “sinto muito”.