Antes de responder a essa pergunta vou dizer porque fui fazer esse exame, aqui nos EUA a gente chama de HSG, que é abreviação para “hysterosalpingogram”, americano tem a mania de facilitar tudo, o que acho ótimo, porque que nome complicado!
Após três ciclos de Clomid sem sucesso, fui encaminhada pela minha ginecologista tradicional Dr. Adeeti Gupta para um médico especializado em infertilidade. O Clomid ao meu entender é o primeiro passo para tentar engravidar para quem possa ter problema de ovulação. O Clomid tem ação anti-estrogênica, que inibe o hormônio estrogênio, o que faz com que as chances de engravidar aumentem exponencialmente graças ao processo de ovulação que é otimizado. Como tenho síndrome dos ovários policísticos, minha menstruação é irregular e minha médica ginecologoista Dr. Adeeti Gupta achou que esse medicamento poderia ser suficiente, mas não foi.
Então achei uma médica especializada em endocrinologia reprodutiva, infertilidade, obstetrícia e ginecologia, Dr. Mary E. Rausch, que atende no Hospital Northwell Health de Manhasset, Long Island New York. Em nossa primeira consulta ela me explicou os tratamentos disponíveis; inseminação intrauterina (IIU) e a fertilização in vitro (FIV) e a histerossalpingografia diria se poderia optar pela inseminação intrauterina, técnica que injetam espermatozoides diretamente dentro do útero, aumentando e muito as chances de seu encontro com o óvulo ali presente, além de não exigir a presença do muco vaginal em quantidade e qualidade adequadas para a gravidez, como é necessário com a relação sexual normal. Antes do depósito dentro do corpo feminino, o líquido seminal passa por um tratamento laboratorial em que os espermatozoides de melhor qualidade são escolhidos para a futura realização do procedimento. Esse processo é importante para o sucesso da terapia. Outra etapa também essencial é a estimulação ovariana, isto é, a mulher faz uso de medicações que estimularão a sua produção de óvulos com o intuito de aumentar as chances de encontro entre pelo menos uma célula de cada parceiro. Minha médica explicou que tomaria novamente o Clomid caso essa terapia fosse a escolhida.
A princípio a tentativa de IUI seria melhor por ser mais rápida, menos invasiva e mais barata. O preço do tratamento varia de 500 a 4000 dólares nos Estados Unidos, tudo variando do tipo de medicamento que deve ser usado. Já o IVF custa a partir de 10.000 e a medicação vai de 1.500 até 3.000 por ciclo. Eu gastei cerca de $30,000.00 antes da transferência!
No entanto, para fazer a inseminação intrauterina precisa de pelo menos uma trompa sadia. E é a histerossalpingografia que usam para avaliar o útero e checar se suas trompas não estão bloqueadas.
Como foi a minha histerossalpingografia?
A médica explica que é tipo um exame de Papanicolau com radiografia, isso para te acalmar, mas não é exatamente isso até porque você tem que tomar antibiótico um dia antes do exame, no dia e um dia depois, além de Tylenol 30 minutos antes do procedimento. Meu exame foi agendado para 11 dias após ficar menstruada. Também tive que fazer um exame de gravidez dois dias antes da histerossalpingografia e a médica pede para você não ter relações sexuais depois desse dia até o exame, para não engravidar e ter risco de perder o bebe ou ter um bebe com má formação. Fiz a histerossalpingografia em 10/04/2018.
A histerossalpingografia é um exame bem chato e bem dolorido, eu achei que eu ia explodir pela vagina! Nunca senti tanta dor na vida, eu me contorcia de dor, enquanto uma enfermeira segurava a minha mão e acariciava a minha testa.
O exame tem sim tem o raio x, mas tem todo uma preparação antes e isso sim dói, mas dói muito. É uma cólica tão forte que você não sabe se seu útero vai explodir sangue, ou se você vai fazer xixi ou coco na cara do médico. Transpirei que nem um porco. Fiquei o exame todo só tentando se controlar para que nada mais constrangedor acontecesse.
Como é feito o exame?
Colocamos aquela camisola hospitalar. Até a meia precisei tirar e como era frio, me deram um par de meias descartáveis. Depois fui chamada para uma sala enorme, gelada e com decoração que parecia hospitais de filme de antigamente, nada acolhedor. No meio uma plataforma de metal para deitar e uma máquina de raio x. Na sala tinha um médico ginecologista, uma técnica de radiologia e uma enfermeira.
Logo que entrei o médico me mandou deitar naquela plataforma metálica, que estava coberta por um lençol e na ponta, aonde coloquei meus quadris tinha um tapete higiênico absorvente (tipo aqueles de a gente usa para cachorro urinar). Logo depois fiquei na posição ginecológica e o médico inseriu o espéculo que abre o canal vaginal e é usado para ajudar o médico colocar o cateter. Ele disse que ia sentir uma beliscadinha, de fato é incomodo, mas essa parte não dói nada comparada com o que estava por vir. Depois disso o médico me desliza para debaixo da máquina de raio x, você não pode se mexer, então a equipe te coloca nas posições. Quando você já está na posição correta, eles abaixam a máquina de raio x na direção do nosso quadril. Depois disso o médico insere um liquido que é o contraste e depois a técnica começa a tirar fotos. Depois mais liquido e mais fotos. Cada vez a dor vai ficando insuportável. Eu comecei a me contorcer de dor com um cateter na vagina e pedindo “please, stop”. Eles não pararam e continuaram o exame, que dura uns dez minutos no total. Após aplicação do contraste, o médico realiza vários raio-X como o objetivo de observar o percurso que o contraste faz por dentro do útero e em direção às tubas uterinas.
As imagens obtidas pelo raio-X permitem que seja observada, de forma detalhada, a morfologia dos órgãos reprodutores femininos, sendo possível identificar as possíveis causas da infertilidade da mulher ou identificar qualquer outro tipo de alteração.
Quando tiram tudo que está dentro da gente, a gente sente um alivio, mas não é o fim da dor. Cólicas são esperadas até algumas horas depois, além de sangramento. Depois a enfermeira me ajudou a levantar, nessa hora percebi que minhas pernas estavam tremulas. Daí elas perguntaram se estava tendo tontura, parece que é comum desmaios após esse exame. O médico depois recomendou tomar mais um dia de antibiótico. E tenho dúvida que o Tylenol fez algum efeito.
Conversando com brasileiras, vi que no Brasil alguns médicos pedem para a paciente fazer jejum (o que deve evitar o medo de evacuar na cara do médico), tomar laxante, colocar supositório, usam água quente para aliviar a dor, ou até dão um anestésico. Perguntei para meu médico no Brasil Dr. Paulo Colabore sobre o anestésico e ele disse que no Hospital Albert Einstein não dão.
O meu resultado foi uma trompa normal e a outra não foi vista, segundo o médico isso pode ser por causa que ela está de fato bloqueada, que por causa da dor que senti eu me contorci e a trompa temporariamente foi bloqueada ou por que a outra trompa é rota de preferência.
Pouco tempo depois desse exame eu engravidei naturalmente. Mas logo descobri que minha gestação era ectópica, exatamente na minha trompa “sadia”, o que além de ser um pesadelo porque a gente é obrigada a matar o bebe, enquanto o hCG não chega a zero há risco de ruptura da sua trompa e logo risco de morte (levei uns três meses para sair da zona de risco) e obviamente ceifando qualquer possibilidade de ter um bebe naturalmente.
Tratamentos de fertilidade não são apenas caros, nos colocam em posições literalmente constrangedoras, todo o nosso pudor tem que ser colocado de lado, além da dor física tem a ansiedade de saber se poderemos ou não gerar uma vida.