Na minha primeira consulta com um médico de infertilidade a médica explicou como funcionava o processo de fertilização in vitro e a inseminação artificial. Me sugeriu fazer o exame de imagem das trompas assim decidiríamos qual método usar. Após minha gravidez ectópica ficou claro que minha chance era apenas da fertilização in vitro.
Mas o que fiquei sabendo na primeira consulta? Que o processo de fertilização in vitro tirava meus óvulos e pegava os espermatozoides do meu marido, os óvulos eram fertilizados fora do corpo e depois inserido em mim. Ela também disse que se fizesse o teste genético nos meus embriões eu tinha 60% de chances de engravidar na primeira tentativa.
E sim, isso foi tudo que fiquei sabendo. As injeções no período do estímulo dos ovários não foram abordadas embora eu já sabia que teria que tomar, mas quais outras surpresas a gente pode ter durante o processo de fertilização in vitro?
- Não cotaram que independente do diagnóstico inicial do que é necessário investir, você vai gastar muito mais e que os gastos podem ser contínuos até o nascimento do bebê
- Não contaram que mesmo afirmando que se tem 40, 50, 60% de chances de dar certo, pode tentar 1, 2, 3, 4… E não dar.
- Não contaram que o controle de progesterona e estradiol antes e após a transferência é indispensável.
- Não contaram que um beta inicial positivo não é o final da caminhada.
- Não contaram que mesmo fazendo a indução pode não ter óvulos, tendo óvulos pode não ter embriões, tendo embriões esses podem não desenvolver para poder transferir e mesmo transferindo podemos não ficarmos grávidas.
- Não contaram que mesmo vendo vários folículos no ultrassom antes da transferência, no dia da transferência pode ser retirado um número menor ou maior de óvulos.
- Não contaram que o negativo/ aborto pode nos derrubar de uma tal maneira e que nos levantar pode ser quase impossível, porque você gasta uma fortuna, sofre fisicamente e emocionalmente para NADA!
- Não contaram que o casal tem que ter muita estrutura para aguentar a jornada na reprodução humana, porque se não tiver além das frustrações encontradas pelo caminho, pode acabar em separação.
- Não contaram que os medicamentos me deixaria constipada.
- Não contaram os muitos dias que você precisa ficar sem sexo, seja por causa da cirurgia, exames ou a quantidade de menstruação provocada que a gente pode ter.
- Não contaram que se você tiver pedras nas vesículas os medicamentos podem fazer a vesícula ficar doente e você ter que tirar a vesícula antes da transferência ou durante a gravidez.
- Não contaram que ter ou não ter fé, não é fator determinante.
- Não contaram que o natimorto pode acontecer mesmo com um embrião geneticamente tesado.
- Não contaram sobre o tempo de recuperação após a cirurgia de retirada dos óvulos. A maioria das mulheres acham que podem voltar a trabalhar no dia seguinte, mas o fato é que a recuperação pode ser bem mais lenta.
- Não me contaram que o meu embrião testado geneticamente poderia não descongelar.
- Não me contaram que precisaria fazer dieta e tomar vitaminas e minerais 90 dias antes da coleta dos óvulos. Leia “It starts with the egg” que em português foi traduzido para “Tudo começa com o óvulo”. Vejo muitas americanas que estudam com esse livro, mas poucas brasileiras.
- Não me contaram que o corpo pode recusar os remédios e ovular 23 ovulos maduros 3 horas da coleta.
- Não me contaram (e também não investigaram) que se eu tivesse trombofilia poderia perder o bebe. Acredito que isso é um problema bem recorrente dentre as pacientes de fertilização in vitro.
- Não me contaram que eu poderia ter os óvulos que nunca cresciam ou paravam de crescer.
- Não me contaram que o ciclo poderia não ser cumprido em um mês, e que poderia levar meses entre o estimulo e a transferência.
- Não contaram que no mês de agosto o setor de transferência é fechado para estudo no hospital e eu não poderia transferir em agosto, o mês que provavelmente seria o da minha transferência. Ouvi outros relatos similares.
- Não contaram que depois da transferência colocariam um supositório no meu anus.
- Não me contaram que eu teria vários ciclos cancelados. O primeiro foi porque antes da estimulação eu já tinha folículos que estavam prestes a ovular. Na segunda vez um folículo estava muito mais maduro que os outros.
- Não me contaram que cada ciclo é uma caixinha de surpresas. No meu primeiro ciclo tudo foi perfeito e eu tive meu primeiro bebe. Para o segundo bebe meu ciclo foi cancelado porque o endométrio estava fino.
- Não me contaram que a cirurgia de retirada dos óvulos seria muito pior do que eu imaginava.
- Não me contaram que o estrogênio precisa estar perfeito, então eu tive quase o meu ciclo cancelado mesmo antes de começar.
- Não contaram que teria que fazer teste genético. A pessoa achava que ia fazer a transferência com o embrião fresco.
- Não me contaram que a estimulação dos ovários pode criar cistos no útero. Estes cistos não causam infertilidade, nem prejudicam a fertilização ou a gestação, mas a presença deles pode indicar que teve irritação do colo uterino. Esses cistos geralmente não necessitam de tratamento, porque desaparecem sozinhos, mas em casos muito raros, os cistos podem aumentar muito de tamanho, alterando a forma do útero. Nesta situação, o ginecologista pode remover o cisto cirurgicamente.
- Não contaram que se tiver pólipo no útero meu corpo pode rejeitar o embrião.
- Não contaram que além da taxa anual de manter o embrião congelado, haveria uma taxa para o congelamento.
- Não contaram que os hormônios da indução aceleram o aparecimento de um nódulo que futuramente iria aparecer.
- Não contaram que teria que fazer várias induções seguidas para montar um banco de embriões e mandar para análise.
- Não contaram que eu teria que pagar separadamente pela biopsia e pelo teste genético do embrião. E os custos são bem altos.
- Não contaram que você pode ter hiperestimulo dos ovários, e que isso é mais comum em pacientes com a síndrome dos ovários policísticos. Hiperestimulo é quando produz muitos óvulos e os ovários crescem demais. E se isso acontecer você pode ganhar muito peso em pouco tempo (mais de 3kg num dia), vai ter dores na região dos ovários, pode sentir nausa e vomitar ou ter diarreia. EM casos mais severos você pode ganhar de 15 a 20kg em 5 a 10 dias, dores severas no abdômen, coágulos sanguíneos nas pernas, náuseas e vômitos severos e persistentes, diminuição da micção, falta de ar, abdômen menor ou maior. Pode dar água no pulmão também e você corre o risco de ficar internada. Se o hiperestimulo for leve, você terá que continuar indo ao hospital com frequência.
- Não contaram que você tem chances de ter uma gravidez ectópica. E que se isso acontecer você vai ter que fazer cirurgia para tirar o bebe e talvez algum dos seus órgãos, ou tomar uma injeção de quimioterapia para fazer o corpo sugar o embrião, e se isso acontecer, você vai sofrer demais. Não só emocionalmente por “matar” seu bebe, mas fisicamente.
- Não contaram que se você tiver hiperestimulo dos ovários a sua transferência não será feita fresca e você vai ter que congelar embriões.
- Não contaram que sempre vão olhar seu ovário para ver se tem um cisto. E cistos podem aparecer de uma hora para a outra e se isso acontecer, seu ciclo é cancelado.
- Não contaram que existe uma chance imensa de você não conseguir engravidar na primeira tentativa do processo de fertilização in vitro. E se não der certo, você vai ter que pagar tudo de novo! Sem descontos e sem pena.
- Não contaram que seu endométrio tem que ter certa espessura antes da transferência. Também não contaram que seu endométrio poderia não engrossar com remédios e que assim você teria ciclos cancelados e até ser obrigada a fazer outro ciclo de estimulação dos ovários. Quem tem dinheiro e condições emocionais para fazer duas estimulações uma próxima da outra? Poucas pessoas.
E o mais importante que nunca iram contar, mas todas sabemos que o mundo reprodução humana é um mundo onde médicos e clínicas lucram em cima de sonhos, então temos que nos empoderar, pesquisar ir além, para poder saber se colocar diante de médicos que não contam nada, para poder faturar em cima da dor das pacientes…