Dia desses fui a um restaurante brasileiro em Mount Vernon, no subúrbio de Nova York. Fazia quase três ano que não comia pizza brasileira, estava de fato aguada. A pizza americana é massuda, o queijo ruim e ela é cheia de óleo. Aqui achamos pizza italiana, que é um pouco melhor, mas não colocam molho de tomate, a massa é seca (parece pão sírio), e o queijo é de primeira, mas não e pizza brasileira. Pizza brasileira não tem em Nova York, foi por isso que decidi ‘viajar’, tudo bem que são 30 minutos de carro, mas pagamos dois pedágios de 8 dólares (cerca de 58 reais) para ir de Astoria Queens, até Mount Vernon. Segundo uma amiga que já trabalhou no local, lá tem pizza brasileira. Valeu muito a pena o deslocamento e meu namorado adorou, apesar de ser uma gordice sem igual.

Pizza metade milho com catupiry, metade palmito com catupiry.
Não conhecia o restaurante Chalana que conta com um pequeno salão e buffet. Eles não tinham cardápio de pizza, por isso montei dois sabores ao meu gosto, milho e palmito, ambas com catupiry. Estava rolando o maior sambão ao vivo. Não sou fã de samba, preferia que estivesse tocando uma suave MPB no radio mesmo e que pudesse conversar com meu namorado. Tudo bem, fora do Brasil, temos que lidar com os nossos clichês.

Comer pizza com garfo, faca e prato de verdade e um luxo aqui em NY. Eles acham um absurdo essa pratica.
Na área interna tinham mais famílias, mas as mesas estavam lotadas. Assim a senhora do caixa sugeriu que fossemos para a aera externa, estava uma noite quente, cerca de 18 graus e nos sentamos bem em frente ao samba, pois era o único local disponível. E nesse momento que a minha ficha mais uma vez caiu para como vivemos num mundo machista e sem respeito.
Chegando a área que rolava o samba, tinha uma mesa bem grande onde pessoas bebiam cerveja e algumas poucas beliscavam algum petisco. Do lado do palco havia um bar onde duas garçonetes revezavam servindo cervejas, tipo bar de festa. Senti que estava no lugar errado porque além de não gostar de samba, não bebo e aquele esquema de entregar cerveja rapidamente não serviria para mim. No entanto, estava animada e no clima para comer pizza. O que me incomodou realmente foi que quando cheguei todos os homens, os em grupo, os barrigudos, os mais jovens, o que bebia uma cerveja solitário olharam para mim. Mas não olharam pouco, ficavam virando a cabeça em minha direção a toda hora. Meu namorado, que é iraniano até comentou “Brazilian Style, everyone was staring at you”, achando que isso era um comportamento normal tupiniquim. Note que eu e meu namorado andamos sempre de mão dadas ou abraçados, e quando sentados sempre estamos encostados, ou seja, era impossível não saber que estava acompanhada. No início fiquei tão desconfortável que não tinha direção para olhar, onde projetava meu rosto trocava olhares com algum carinha idiota sem querer. Fiquei bastante incomodada que não fui ao banheiro e nem deixei meu namorado ir, apesar de estarmos um pouco apertados. Sabia que algum cara podia chegar perto de mim caso ficasse um segundo sozinha, o que criaria um mal estar, apesar do meu namorado ser um cara civilizado e jamais reagiria drasticamente a uma aproximação.

Sonho dos homens que bebem
Então fiquei curiosa e olhei as meninas. Estava meio dividido, os homens do lado esquerdo e as meninas do lado direito, meu namorado chegou até comentar, “nossa parece festa no Irã, onde homens ficam bebendo de um lado e mulher dançando de outro’. Aliás, duas mulheres dançavam juntas com bastante remelexo. Notei que a maioria das mulheres bebiam cerveja e se vestiam mais melhor do que eu, eu não tinha saído para jantar fora, eu só tinha ido caminhar no parque do bairro! No entanto, todas as garotas do local estavam pelo menos um pouco acima do peso. Meu namorado comentou “só você e as garçonetes que são magras, por isso esses homens ficam olhando’.
Não vi nenhum homem estilo fitness. Sempre comento isso com meu namorado quando vamos num bar ou restaurante gordo tipo Outback “olha, não tem pessoas do nosso tamanho”. Todos os homens eram de tamanho mediano de físico embutido ou bem gordos mesmo, todos bebendo e sem dúvida faziam melhor matches com as meninas gordinhas que também bebiam do que eu. Não estou só afalando do equivalente aparência física, mas em gostos também. Não existe coisa mais chata do que uma pessoa que bebe com uma que não bebe, para os dois lados. Quem bebe quer beber acompanhado para dar risada e filosofar, quem não bebe acha uma chatice a conversa das pessoas após um copo de chope. Eu havia pedido um suco natural de laranja.
Chegamos bem tarde no restaurante, fomos um dos últimos a sair. Então percebi que nenhum homem tentou falar com nenhuma mulher, tudo terminou no “zero a zero”. Porem achei bastante injusto, porque o homem de físico embutido quer uma mulher fitness? Homem pode não se importar com a aparência? Pois é meninas, estamos danadas mesmo, vivemos num mundo onde a aparência física e mais importante que inteligência, dinheiro, ética ou qualquer valor pessoal que a gente tem. Outro dia uma amiga estava resmungando no Face Book que ela era inteligente, independente, com bom trabalho e estudo e não arrumava namorado. Quase falei para ela bobagem, isso ninguém vê, perde peso. Eu posso falar isso com propriedade, pois já fui 30 quilos mais gorda que sou agora. Não me sinto lisonjeada com olhares fora de cabimento, com cantadas na rua… sinto medo! Por isso tantas mulheres são violentadas diariamente no mundo, pois os homens nãos nos respeitam, não nos veem como pessoa e sim como objeto sexual. Não importa a roupa, não importa o local, não importa se estamos acompanhadas, e uma questão cultural.
Embora eu tenha ficado chocada com o “assedio”, eu comi minha pizza e fui embora com meu namorado, que e fitness como eu e estava apenas curtindo um “cheatting meal”, ou seja, vida de bar e restaurante uma vez em nunca, por isso nos mantemos magros, mas gostaríamos de sermos respeitados.

Essa sou eu no dia, algumas pessoas justificam assedio pela roupa. Estava com uma saia de cintura alta, não era longa, mas não era minissaia. E uma camiseta de decote canoa. Insinuante? Eu acho que não.