Cerveja preta para estimular a produção de leite, moeda para cicatrizar o umbigo e até azia como indicativo de que o bebê vai nascer cabeludo são apenas algumas das inúmeras teorias que dez entre dez futuras mães passam a escutar assim que anunciam a gravidez. Embora grande parte dessas crenças não tenha qualquer embasamento científico, muitas mulheres fazem questão de seguir toda sorte de recomendação à risca. Mas é preciso saber diferenciar as verdades incontestáveis daquelas que são relativas, além de detectar o que é pura fantasia. A revista CRESCER consultou especialistas e colocou à prova dez “verdades irrefutáveis” para que você saiba o que realmente tem de ser levado em conta no primeiro ano de vida do seu filho e eu as coloco aqui hoje para vocês:
CONVERSAR COM OS BEBÊS NÃO FAZ SENTIDO
MITO. Muitas pessoas acreditam que o recém-nascido não consegue assimilar o que é dito. Mas, segundo a professora de Psicologia Izabella Paiva Monteiro de Barros, da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP), essa despretensiosa “conversa” é superimportante. “Além de estreitar os laços dos pais com o filho, ela ajuda a atribuir sentido às informações que o pequeno recebe do ambiente.” Um jeito de fazer isso é a mãe dizer, ao mesmo tempo que oferece o peito, “agora você vai tomar seu leite”, por exemplo. Uma pesquisa realizada com 50 bebês na Universidade Northwestern, em Illinois (EUA), provou que o recurso é eficiente. Eles mostraram uma figura com um peixe desenhado. Para alguns, falavam “peixe”. Para outros, a imagem veio associada a um bipe. Aqueles que ouviam a palavra aprenderam melhor a associá-la.
TOMAR MAMADEIRA DEITADO POR CAUSAR DOR DE OUVIDO
VERDADE. Como o canal que liga a garganta ao ouvido é mais curto e horizontalizado no recém-nascido, o líquido tende a fluir com maior rapidez, principalmente se o bebê estiver deitado. Isso permite que o leite alcance o ouvido e suas bactérias se instalem ali. Aí existe o risco de se multiplicarem, provocando uma infecção. Até os 2 anos, a criança deve, portanto, estar levemente inclinada – em um ângulo de 30º a 45º – para evitar o problema.
DAR ÁGUA OU COLOCAR UM PEDAÇO DE LÃ NA TESTA DO BEBÊ FAZ ELE PARAR DE SOLUÇAR
MITO. O soluço é resultado da contração involuntária do diafragma e, como os diferentes estímulos aos quais o recém-nascido é exposto podem contrair o músculo, o problema é frequente nessa fase. Basta pensar que o bebê passou meses dentro da barriga da mãe, recebendo, pelo cordão umbilical, o alimento já metabolizado e, de repente, ele passa a ter de mamar, engolir, digerir, sugar, urinar, evacuar… Enfim, ele começa a exercer uma série de novas funções, como uma máquina que acabou de ser ligada. Então, não há muito que fazer. O jeito é esperar o soluço cessar naturalmente.
DORMIR DE BARRIGA PARA CIMA AUMENTA OS RISCOS DE O BEBÊ REGURGITAR E ENGASGAR
MITO. Quando dorme virada para cima, a criança consegue mexer a cabeça livremente para os dois lados, o que ela certamente fará se sentir algum incômodo. Se ainda assim ela engasgar, provavelmente ocorrerá a tosse – e aí talvez esteja a origem da associação que alguns pais fazem entre a postura do bebê e o engasgo. A posição que, de fato, oferece risco é a de barriga para baixo, por deixar o pequeno sem liberdade de movimento e sujeito a inalar o gás carbônico liberado na respiração, o que pode asfixiá-lo. Já existem inclusive diversos estudos que associam o hábito de dormir de bruços à morte súbita de recém-nascidos.
A ANSIEDADE DA MÃE AUMENTA A PROBABILIDADE DE O BEBÊ TER CÓLICA
VERDADE. O sistema digestivo dos bebês é imaturo. Isso implica em movimentos involuntários de contração e relaxamento, que podem resultar em gases e cólicas, bastante comuns. E o estresse pode agravar esse sintoma. Ocorre que a criança é capaz de perceber as alterações de humor da mãe e também fica tensa, insegura. Daí o corpo dela reage, favorecendo a sensação dolorosa. Por isso, a mãe deve se acalmar e tentar evitar que a tensão transpareça.
BOLSA DE ÁGUA QUENTE MELHORA A CÓLICA
VERDADE. Assim como o movimento de “bicicleta” feito com as perninhas, o calor diminui o incômodo causado pela cólica. A elevação da temperatura provoca a dilatação dos vasos sanguíneos e o relaxamento muscular. Assim, a dica para esquentar o local da dor e aliviá-la é lançar mão da bolsa – com a água em temperatura morna, para não queimar – ou encostar a barriguinha do bebê na da mãe.
O LEITE SEMPRE DEVE SER SERVIDO MORNO (NO CASO DOS QUE TOMAM MAMADEIRA)
MITO. O leite materno, claro, deve ser sempre a primeira opção – e ele já sai na temperatura adequada para o consumo. Mas, segundo o pediatra José Luiz Setúbal, presidente do Hospital Infantil Sabará (SP), o bebê pode tomar leite morno ou em temperatura ambiente (no caso dos que tomam mamadeira). Não há consenso sobre bebidas frias ou geladas. Alguns especialistas acreditam que elas possam prejudicar as defesas das vias aéreas e, por essa razão, só devem ser ingeridas após 1 ano. Para quem costuma armazenar o líquido no congelador, a dica é aquecê-lo em banho-maria, já que a fervura causa a perda de suas propriedades. A nutricionista Marisa Resende, do Hospital São Camilo (SP), lembra, no entanto, que as fórmulas em pó não são estéreis e, por isso, precisam ser reconstituídas em água fervente para reduzir os riscos de infecção. A especialista diz que o velho truque de colocar o leite no dorso da mão ainda é a melhor maneira de checar se o bebê corre o risco de queimar a boca ao ingerir a bebida.
FALANDO NISTO…
A menos que o pediatra indique algum complemento com mamadeira ou que a mãe não possa amamentar, somente o peito deve ser dado até o 6º mês de vida do bebê. O leite materno possui tudo o que ele vai precisar, inclusive mata a sede (que é a preocupação da maioria das mães). E ao contrário do que se ouve frequentemente, não existe leite fraco, existe mãe desinformada e com a cabeça cheia de mitos passados de boca em boca por aí, principalmente por aquela vó ou tia que cisma em dizer que você precisa dar chazinho para a cólica do bebê ou água para matar a sede…. Nada disso é necessário quando o bebê mama exclusivamente no peito. Só é indicado oferecer outros líquidos ao bebê quando entrar na fase das papinhas, ou começar a ser desmamado do seio, por assim dizer. Aí ele realmente vai precisar se hidratar de outras formas, mas isto também será melhor indicado pelo pediatra que acompanha seu bebê mês a mês (sim, precisa levar ele todo mês no pediatra durante – pelo menos – o primeiro ano de sua vida, mas isso fica para outro post, hehehe).
VACINA DÁ REAÇÃO
EM TERMOS. Por ser um corpo estranho ao organismo, ela é capaz de provocar alguma reação. “Entretanto, hoje em dia isso acontece com menos frequência, já que os processos de imunização são mais modernos do que antigamente”, afirma o pediatra José Luiz Setúbal. Após a aplicação da vacina BCG (antituberculose), no entanto, é esperado que o recém-nascido apresente uma pequena ferida no braço que, depois de cicatrizada, forma uma marquinha. Já no caso da Sabin (contra a poliomielite), a reação é raríssima. Com a tríplice viral (que previne caxumba, rubéola e sarampo), há o risco de o bebê ter febre e dor local. Isso porque a vacina é composta pelos próprios vírus causadores da doença atenuados. Reações semelhantes podem ser observadas depois da administração da pentavalente (contra difteria, tétano, coqueluche, meningite e hepatite B). Um antitérmico costuma resolver, mas só pode ser tomado com orientação médica e depois de o sintoma se manifestar, já que o uso preventivo e indiscriminado pode prejudicar a resposta à vacina.
A ERUPÇÃO DO DENTE PROVOCA FEBRE
EM TERMOS. “Em casos raros, a criança pode até apresentar febre baixa, em torno de 37,5ºC”, afirma a pediatra Leda Amar de Aquino, do Departamento Científico de Pediatria Ambulatorial da Sociedade Brasileira de Pediatria. Mas isso só ocorrerá, segundo ela, se acontecer algum processo inflamatório na gengiva. “Se paralelamente ao nascimento do dente o bebê apresentar febre alta, acima de 38ºC, a recomendação é consultar um especialista”, alerta a médica.
CHUPETA ENTORTA OS DENTES DAS CRIANÇAS
MITO. No primeiro ano de vida, a chupeta não prejudica a estrutura dentária. “A razão de desestimularmos o uso do acessório é que o hábito interfere na amamentação”, justifica Leda. Mas se a criança já passou dos 2 meses e está ganhando peso, é sinal de que o aleitamento vai muito bem, obrigado. Mesmo assim, os pais precisam entender que a chupeta tem a função de acalmar e, por isso, não há necessidade de liberar seu uso indiscriminadamente. Isso só dificultará o abandono do objeto quando ele começar a ser prejudicial para valer. “Depois dos 2 anos, a utilização da chupeta certamente prejudicará o desenvolvimento dos dentes, já que ela projeta a língua para fora, empurrando os incisivos para frente”, explica. O melhor é que o recurso seja reservado, portanto, aos dois primeiros anos de vida e a situações pontuais, com o objetivo de tranquilizar o pequeno.
BEBÊ QUE BRINCA DEMAIS TEM SONO AGITADO
EM TERMOS. “As crianças têm dificuldade para se ‘desligar’, despedir-se do dia e das pessoas. Então, dependendo do nível de excitação e do tipo de intervenção do adulto na brincadeira, a qualidade do sono pode ser prejudicada”, destaca a psicóloga Izabella. O bebê precisa que você o auxilie na decodificação do material que está explorando. “Se ele for cercado por um monte de brinquedos diferentes, os estímulos podem ser internalizados de forma bruta. O adulto deve, por exemplo, apresentar um objeto que emite determinado som e, em seguida, mostrar outras maneiras de se obter o mesmo som, auxiliando a criança a contextualizar e processar a experiência a favor de seu desenvolvimento.” Com uma melhor compreensão das informações recebidas, o pequeno tem mais tranquilidade para dormir. De qualquer maneira, o ideal é que a brincadeira termine cerca de duas horas antes de o bebê ir para a cama.
PALAVRA DA COLUNISTA
Espero que este post tenha ajudado a sanar alguma dúvida e tirar da sua cabeça alguns mitos que surgem acerca da vida com um bebê em casa. Tem muitas outras coisas que falam por aí. Muitas coisas envolvem sabedoria popular e outras são somente coisas passadas de mãe para filha sem averiguação de fundamento científico. Como não dá para abordar neste post sobre tudo o que é mito ou verdade dentro da maternidade, minha dica é: tire todas as suas dúvidas com o pediatra. Ele é a pessoa mais indicada para te dizer o que você está fazendo de certo e errado, e o que é mito ou verdade. E se alguém insistir que você faça certas coisas muitas vezes sem sentido, ou já esclarecidas para você que é um mito, respire fundo, concorde para não arrumar problemas, mas faça do seu jeito, ou seja, do jeito que você já sabe que está mais certo. Ser mãe muitas vezes é concordar discordando. Eu mesma já fiz muito isso, hehehe.